OPINIÃO| Ser-se o que se faz. Não se ser o que se diz.

OPINIÃO| Ser-se o que se faz. Não se ser o que se diz.

Quantas vezes nos deparamos com pessoas que “falam, falam, falam e não dizem nada”? Quantas vezes nos deparamos com pessoas que “falam, falam, falam, e nada fazem”? Eu diria que nos deparamos com essas pessoas várias vezes por dia. Nos cafés, nas pastelarias, nas papelarias, na fila para as finanças, à espera do metro, etc. Enfim, é comum. Quero com isto dizer que não é nada de extraordinário. São pessoas e é assim que se comportam, agem e expressam.  

É por estes motivos que, antes de prestar atenção a qualquer conversa – ou de apurar os meus sentidos auditivos – costumo sempre perguntar, caso me interesse, pela profissão da pessoa. Sim, a profissão. Uma profissão diz muito mais de uma pessoa do que o seu próprio carro por exemplo. As mãos dessa pessoa, se estiverem suficientemente calejadas, cortadas, negras, também o dizem. A minha avó sempre foi acusada de ter “mãos de parteira”, talvez por ter dedos grandes, mas a verdade é que esteve muito longe desse percurso profissional. Enveredou pelo campo e pela sachola. E se há profissões que hoje-em-dia estão em risco, ou que são pouco reconhecidas, há profissões no extremo oposto. Profissões que sempre foram necessárias ao bom funcionamento de uma sociedade moderna. Sei lá, estou-me a lembrar de bombeiros, advogados, forças de segurança e protecção civil, serralheiros, trolhas (engenheiros civis), arquitectos, registos e notários, médicos e enfermeiros, educadores sociais, jornalistas, professores, psicólogos, formadores, empregados de limpeza, lixeiros, agricultores e por aí fora. A lista de profissões existentes e dignas é extensa. Uma breve nota para dizer que ser-se estudante não é uma profissão. Eu poria nestes termos: é uma fase para se atingir determinada profissão ou determinado grau de conhecimento sobre uma certa área ou matéria específica. No entanto, também sou forçado a dizer que o percurso académico de uma pessoa, em nada determina a sua carreira profissional. Pode ter muita influência, mas não é necessariamente determinante.

Quantas vezes nós, eleitores, fregueses e munícipes, perguntámos aos nossos eleitos locais pela sua profissão? Nos momentos de campanha eleitoral, nomeadamente nas últimas Autárquicas e Legislativas, quantos jornalistas, entrevistadores ou moderadores ouvimos a perguntar pela profissão dos candidatos que encabeçavam as listas de candidatura aos vários órgãos de soberania? Eu sinceramente ouvi muito poucos, e talvez fosse uma informação importante a reter. Já agora, uma última achega em formato de esclarecimento: ser-se político não é uma profissão. Só se é político profissional, quem é eleito ou contratado para o efeito. Quem não é eleito, é apenas um mero cidadão que não vê os seus direitos políticos vedados (nomeadamente o direito à livre associação, sindical, partidária ou associativa). É minha percepção pessoal, que há gente que não entende isto, e que por defeito – ou ignorância – coloca tudo e todos “no mesmo saco”, até os próprios assessores políticos, que naturalmente são pagos, e bem, pelas suas múltiplas funções e vicissitudes. Não andássemos nós aqui neste mundo a trabalhar de graça.

Para concluir, esta crónica de opinião reflexiva foi escrita de uma só vez (como diria o saudoso José Mário Branco, “escrita de jorro”) no dia 28 de Abril de 2023, a sensivelmente 3 dias do 1º de Maio, Dia do Trabalhador. Não pretendendo fazer qualquer tipo de publicidade a editoras, aproveito para fazer uma recomendação literária aos leitores mais acérrimos: “A Arte da Guerra” de Sun Tzu. Existem várias edições (com diferentes nuances tradutivas) disponíveis e acessíveis em Português de Portugal.

                                                                                                                      Nuno Arada
Tradutor e Intérprete
O autor escreve segundo a antiga ortografia por opção própria.

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