Escondida ou Estrela gastronómica, importa celebrar a Cebola

Escondida ou Estrela gastronómica, importa celebrar a Cebola

A “Real Confraria Gastronómica das Cebolas” é uma associação sem fins lucrativos, que visa «defender o bom uso e a boa prática gastronómica, nomeadamente no uso da cebola, bem como a pesquisa e o receituário tradicional e a sua adequação aos tempos de hoje», diz Ricardo Cruz, Chanceler, que continua a explicar a iniciativa «o “Capítulo” é a cerimónia principal de cada Confraria. É como se fosse a nossa festa de aniversário, onde fazemos uma celebração, onde vem pessoas que nos visitam, e que normalmente também é um momento de entrada de novos confrades», explicou.

Neste “VII Capítulo” foram entronizados três confrades efectivos e quatro confrades de honra, sendo que os confrades efectivos representam a Confraria nos seus eventos, no dia-a-dia e para representação da Confraria. Já os confrades de honra é uma atribuição da Chancelaria, que é a Direcção, por algum serviço prestado, por alguma relevância nacional, regional ou local «que sejam nossos embaixadores onde forem, que se lembrem da cebola e a propósito possam explicar as virtudes da cebola», disse Ricardo Cruz que revelou serem agora cerca 70 os confrades.

Nova sobremesa a caminho

Mas na Confraria o trabalho também passa pela pesquisa de novas utilizações das cebolas que muitas vezes está invisível, mas está nos pratos «em quase todos os pratos da nossa cozinha, arriscaria a dizer que todos têm cebola. Mas muitas vezes nós não sabemos, não sentimos. Quando estamos a comer não sentimos que está lá a cebola. A cebola foi utilizada para preparação, para o estrugido, para o assado e assim, foi utilizada. Mas, não a comemos. Quer dizer, não a sentimos, porque ela muitas vezes no estrugido é picada muito fininho e depois desaparece. No assado às vezes até é descartado porque se utiliza só a carne e ela (a cebola) só está lá a fazer uma cama que é para lhe dar alguma humidade, portanto para o assado não secar tanto a carne. Mas, o que tentamos fazer também é a utilização da cebola de uma outra maneira, de maneira que seja visível e dando outra utilização à cebola», diz o chanceler que acrescenta «vamos apresentar agora no Congresso dos Cozinheiros, no fim de setembro, uma outra sobremesa com cebola que não será vulgar. Já fizemos uma mousse de chocolate com cebola, agora vamos apresentar uma espécie de leite creme de milho. Enfim, dar algumas voltas, ainda não está totalmente definido, mas será vegan, lactose free e glúten free, portanto será mais universal e toda a gente poderá comer aquela sobremesa.

Representar a Maia e a Cebola

Outro dos “trabalhos” da confraria é a representação e neste particular, durante o ano, participam em eventos como este e outros como o Congresso dos Cozinheiros, divulgando o nome da Maia e Cebola. A nível local marcam presença nas festas da cidade em colaboração com a Cooperativa na mostra agrícola, com pratos de cebola e segundo dizem «fazemos isto nas nossas horas vagas, não temos receitas próprias, não temos fins lucrativos, portanto, quando queremos fazer alguma actividade, temos que juntar uma ou duas parcerias para de certa maneira conseguirmos organizar o evento».

Objectivo da história

Outro dos objectivos da Confraria é a pesquisa «esse é um trabalho que iremos começar muito brevemente, ir ao fundo de toda a história gastronómica da Maia. Nós vamos procurar pesquisar sobre a Terra da Maia, que não é a Maia de hoje, mas será a Maia de há 500 anos atrás, à origem de tudo, não só do que se fazia ou do que se comia, mas também o porquê de se fazer aquilo e o porquê de se comer aquilo. É um trabalho de médio-longo prazo, mas é um grande projecto que nós queríamos implantar», transmitiu.

Bôla à venda na Maia

Um outro projecto, já mais divulgado, mas que pretendem desenvolver é a “Bôla de Cebola” «o que pretendemos fazer num prazo mais breve, será a certificação da Bôla para produção e comercialização em estabelecimentos da Maia, para que possa ser comercializada regularmente, para que as pessoas possam encontrar a boa cebola, mas feita adequadamente e com o método correcto que é o nosso método».

A Feira das Cebolas «Basicamente a Confraria é uma Irmandade. São pessoas que se juntam com um objetivo, neste caso defender um produto, mas podia ser um prato. A escolha deste produto tem a ver com uma tradição, a da Feira das Cebolas, um ritual muito antigo que perdeu importância com o aparecimento dos supermercados e minimercados. Antigamente os produtos sazonais só se encontravam naquela altura. A cebola só havia uma vez por ano. A batata só havia uma vez por ano. As pessoas tinham de comprar uma quantidade de batata ou cebola, que desse até à nova colheita, portanto a Feira das Cebolas era um evento enorme, pleno de utilidade, mas que claramente perdeu importância. A Confraria das Cebolas vem recuperar e recordar o nosso património histórico da Feira das Cebolas que não queríamos deixar esquecer», disse a terminar Ricardo Cruz.

Nuno Arada


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