“Andebol do FC Maia, uma memória viva”

“Andebol do FC Maia, uma memória viva”

“Andebol F.C. Maia, Uma Memória Viva” é o título do livro que, no passado dia 26 de junho, perante mais de duas centenas de entusiastas e convidados, foi apresentado numa unidade hoteleira às portas da Maia.

A obra, da autoria de Fernando Cardoso, Fernando Teixeira, Mário Silva, José Ilídio, Abel Fernandes e Joaquim Alberto Ferreira, transporta-nos até ao passado, onde se recorda a Maia antiga «poderemos reviver e revisitar alguns dos momentos mais importantes de grande glória do nosso clube, as nossas diversas equipas, os nossos apoiantes e dirigentes, embora muitos deles já não estejam entre nós» descreveu Joaquim Ferreira, um dos autores.

Para o autor Fernando Teixeira este é um livro «que regista para a posteridade a vida de mais de quatro décadas do andebol do Maia (…) uma vida tão rica, de tantas amizades, de tanta união entre atletas, treinadores, dirigentes e adeptos, de tantas vitórias e títulos, de tanto orgulho Maiato, não podia morrer e ficar para sempre esquecida, será agora uma memória viva».

Extinto há cerca de 20 anos, o andebol do Futebol Clube da Maia quer afirmar a sua memória, que dizem «está bem viva» e este livro vem eternizar a sua gloriosa existência. Podemos dividir o livro em cerca de meia dúzia de “momentos” e autorias.

“No princípio foi assim”

A apresentação coube a Catarina Ramos, jovem de 24 anos, com grande sucesso, pela forma fresca e inovadora como a fez e com suporte de imagens muito boas do livro.  Com a sua performance, cativou a audiência o desenrolar do principio ao fim.
Incontornavelmente começamos pelo texto de abertura ou pelo “No princípio foi assim” de João Mendes de Araújo, entretanto falecido, que esteve na génese do projeto deste livro «o João é a figura que melhor incarnou a grandeza do Andebol do F. C. da Maia, os seus valores de união, generosidade, competência, sentimento de pertença ao clube e a sua terra da Maia, era um atleta de eleição que deixou tudo para se dedicar ao clube da sua terra», testemunham os co-autores.

“Havendo a tal vontade e trabalho… ressuscitem”

O prefácio, pertence ao vereador Mário Nuno Neves que a título pessoal acedeu ao convite e se confessa surpreso por «não ter ligações ao desporto e muito menos ao Andebol», disse. No entanto discorre e com conhecimento, sobre a vida das coletividades das instituições em geral, terminando com uma frase, diríamos de incentivo ao associativismo «se as Instituições nascem e se fortalecem por vontade e trabalho dos Homens, há sempre condições, havendo a tal vontade e trabalho, para que ressuscitem», escreveu.

Uma abordagem histórica

Fernando Cardoso, historiador, surge convidado pelo seu grande amigo João Mendes de Araújo, para fazer uma introdução ao livro onde faz uma abordagem histórica do mundo, do nosso país e da Maia desde os idos de 1930, até os anos 50 e 60, quando na Maia nasce o F. C. da Maia e o seu Andebol. Introduziu na sua abordagem histórica para melhor compreensão do passado da Maia «um texto de dois grandes vultos da Maia, José Vieira de Carvalho e José Maia Marques».

Fernando Teixeira, descreve em pormenor a Vila da Maia dos anos 50 «quando surgiu o Andebol criado por um punhado de jovens em 1959, liderados pelo Zé Almeida que ainda está aqui connosco no alto dos seus respeitáveis 86 anos», disseram.

A génese do livro

Em 2018, curiosamente na mesma unidade hoteleira que acolhe esta apresentação, realizou-se um jantar convívio de Andebol do F.C. Maia «editar um livro sobre o Andebol já era um objetivo nessa altura, fizeram-se então várias entrevistas conduzidas pelo maiato Carlos Frazão para esse fim. Essas entrevistas estão reproduzidas no livro, dois dos entrevistados já não se encontram entre nós, os antigos atletas António Carvalho e Alberto Soares», testemunharam.

Seguem-se os depoimentos de antigos atletas, dirigentes, de familiares chegados a atletas e dirigentes já falecidos, que dessa forma os homenageiam, até de adeptos que também amaram e viveram o Andebol do F. C. da Maia.

As equipas, treinadores, adeptos, imprensa, documentos e destaques, convívios, tributo aos que partiram, fazem parte da temática seguinte.

«Não podia morrer como morreu»

Mário Silva, conhecido empresário maiato ligado ao setor automóvel, segundo nos disseram, é um nome incontornável na vontade de erguer esta edição e ao MaiahojeTv disse que este «é um projeto de há cinco anos. Faço parte da primeira geração do Andebol FC Maia, não sou fundador, mas pertenço à primeira geração. Pensamos que a memória de um clube tão rica, um desporto tão nobre, uma história tão grande, não podia morrer como morreu. Então vamos escrever um livro. Começamos a escrever um livro e um dos entusiastas do livro morre, que era o meu querido amigo João Mendes de Araújo. Este livro também é uma homenagem a João Mendes de Araújo. Ele faleceu e nós ficamos com uma responsabilidade redobrada. É um livro de memórias do desporto, mas de história do mundo, da Europa, da Maia, do centro da Maia nos anos 60» testemunhou Mário Silva.

«Tivemos que aceitar as coisas como elas são»

José Ribeiro é um conhecido antigo jogador «joguei desde 1960 até 2000 e tal. Joguei a meia distância e a pivot. É bom encontrar amigos e pessoas que se deram bem e que conviveram durante anos, foram solidários. O livro é uma mistura, além do andebol também fala da Maia, na evolução da Maia, fala na sociedade portuguesa, tem muitas fotografias da Maia antiga e da Maia moderna. Ficamos tristes quando o clube acabou, custou-nos muito, mas tivemos que aceitar as coisas como elas são», disse.

«No início, nem sabíamos as regras».

José Almeida é um dos fundadores do Andebol na Maia «fui o idealista, mas fundadores são todos aqueles que jogaram comigo no primeiro jogo. O clube acabou para se tornar no Águas Santas. Durante este tempo todo, nós principiamos com a variante de 11, mas não correu muito bem para nós. Quando fizemos o primeiro jogo, o árbitro estava sempre a apitar contra nós e eu perguntei a um adversário “porque vocês não podem passar daquela linha”… nós não sabíamos as regras. Ao fim de três anos a Federação acabou com a modalidade e continuamos com o andebol de 7 onde já eramos melhores. Joguei 15 anos, comecei aos 22 anos e acabei aos 37 anos. Depois não joguei por causa dos dentes, não passei no centro de medicina desportiva, mas com 50 anos joguei cinco épocas nos veteranos. Dos cinco campeonatos, ganhamos quatro. O livro tem, na maior parte, recorte de jornais emprestados por mim e tem lá a informação toda», recorda.

Campeões em 1970

Abel Fernandes, outro antigo jogador, pertenceu à primeira vaga das camadas jovens que foram criadas «a secção foi criada em 1959 e depois nos anos 60 formaram-se as primeiras camadas jovens do clube e pertenci a essa primeira fornada (em 1968). Depois ingressei como treinador das camadas jovens, até que fui treinador da equipa sénior. Foram uns anos muito interessantes, muito compensadores porque naquela época as amizades prevaleciam sobre os resultados, fossem o que fossem. Entretanto o nível competitivo melhorou e conseguimos ser campeões nacionais da segunda divisão nos anos 70. Vi o fim do clube com muita tristeza. Estamos a falar de um clube que foi fundado em 1950, tinha anos e anos de participação. Passaram centenas de atletas, de conterrâneos e este livro vem reviver e ser uma memória viva desses tempos que são inesquecíveis. As pessoas da Maia aderiram muito ao andebol, foi uma lufada de ar fresco em modalidades desportivas. Foi gratificante esta trajetória que o Maia teve e foi muito triste a forma como ela ficou, que ainda hoje nos dá um sabor amargo, mas temos estas iniciativas onde temos o prazer de conviver com pessoas de várias gerações», disse.

Os testemunhos são a alma do livro

Fernando Cardoso, um dos autores do livro fala-nos da estrutura «estivemos a discutir e chegamos a um consenso e a uma estrutura. Primeiro, o contexto histórico dos anos 30, quando surgiu o andebol, os Jogos Olímpicos de Berlim e o andebol de 11. Depois chegamos à Maia, quando apareceu o andebol, as diferentes modalidades, etc e depois faltava qualquer coisa que acaba por ser o mais importante, que é o contributo daqueles que foram atletas do F.C. Maia e o seu testemunho que é a alma do livro», disse acrescentando «uma grande obra não deixa morrer a memória e sobretudo é uma herança para os filhos e netos», disse a terminar.

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