Super idosos: octogenários com cérebros de 50 anos
Ovídio Costa.
Cardiologista e professor da Faculdade de Medicina do Porto.
It is not enough for a great nation merely to have added new years to life—our objective must also be to add new life to those years.” — John F. Kennedy
Os super idosos têm mais de 80 anos e mantêm saúde física e cognitiva comparável a alguém de 50 ou 60 anos. Geralmente são saudáveis e não têm doenças crónicas, nem usam medicamentos regularmente. Envelheceram de forma extraordinária.
Os estudos desses indivíduos podem auxiliar a compreensão dos mecanismos cerebrais envolvidos na manutenção da função cognitiva na velhice, na prevenção das demências e na melhoria da qualidade de vida física e mental. Esses indivíduos apresentam neurónios cerebrais maiores e mais saudáveis nas áreas cerebrais relacionadas com a memória. Os super idosos demonstram menor acumulação de proteínas e menor tendência ao desenvolvimento de placas anormais no cérebro, como ocorre no Alzheimer. Mesmo quando essas placas estão presentes, o cérebro parece mostrar maior resiliência à deterioração cognitiva. Diversos estudos indicaram que vários fatores relacionados com o estilo de vida influenciaram esta resiliência. Esses fatores incluem educação superior, ocupações que lidem com factos e dados complexos, dieta mediterrânea, realizar atividades de lazer, socializar com outras pessoas e praticar exercícios regularmente. São os chamados fatores de reserva cognitiva e de saúde física.
A apolipoproteína E (ApoE) é um fator bioquímico associado a maior de risco para Alzheimer e doenças cardiovasculares. Indivíduos com a variante APOE4 têm maior probabilidade de acumular proteína beta-amiloide no cérebro e desenvolver demência de Alzheimer, embora isso não garanta a doença. É apenas um fator de risco. Outros fatores genéticos e ambientais são também importantes. O treino mental em novas aprendizagens, como aprender uma nova língua, um novo instrumento musical ou um novo desporto, pode fortalecer a mente. Embora não saibamos o futuro, podemos afirmar que temos o poder de melhorar nossa saúde e bem-estar. Num cenário de rápida evolução científica com acontece actualmente, recordo as palavras de Venki Ramakrishnan, prémio Nobel da Química: “Evolution doesn’t select for longevity, it selects for fitness.” Isto recorda-nos que a longevidade depende das escolhas saudáveis que fazemos hoje. Hoje, envelhecer bem vai muito além da sorte ou da genética.
Leitura sugerida: Super Agers. An Evidence-Based Approach To Longevity de Eric, M.D. Topol. Simon & Schuster, junho de 2025.