Silva Tiago: «A política municipal é feita de proximidade e consensos»
Com mais de quatro décadas de governação ininterrupta da coligação que representa, António Silva Tiago procura dar continuidade a um projeto político que diz ser de «rigor, transparência e proximidade». Natural da Maia, onde nasceu há 65 anos, o atual presidente recorda o percurso de vida ligado ao concelho e apresenta as principais bandeiras da sua recandidatura: novos investimentos em habitação, saúde, ambiente e segurança. Numa entrevista ao Maia Hoje e Jornal da Maia, garante que o município está entre os mais transparentes do país e sublinha que a estabilidade política tem sido determinante para o desenvolvimento local.
Maia Hoje (MH): Quem é o cidadão António Silva Tiago?
António Silva Tiago (AST): Antes de dizer quem é o cidadão, eu queria pedir desculpa ao Maia Hoje porque devia de o ter distinguido recentemente aquando da atribuição de umas medalhas de mérito que a Câmara Municipal realizou em julho. Portanto, eu devia de me ter lembrado em distinguir também o Maia Hoje pelos seus 25 anos de testemunho editorial e vou, se Deus quiser, fazê-lo no próximo mandato e, se calhar, logo no próximo ano.
Nasci aqui há 65 anos, vivi e trabalhei sempre aqui e entreguei a minha vida ativa, profissional e política a este concelho desde os meus 28 anos. Estou aqui, de corpo e alma, para continuar a colocar a Maia em primeiro. A Maia é, como todos sabemos, primeiro em imensas coisas e é um concelho de excelência que vou poder, nesta entrevista, prová-lo à evidência com números e com objetividade.

MH: O vosso slogan é Maia em Primeiro. O que significa?
AST: Em muitos aspetos da sua vida política, autárquica, comunitária, a Maia está em primeiro. Deve-se a um trabalho imenso e a uma estabilidade política que nós conseguimos construir e manter. Deve-se também ao nosso desempenho, ao nosso lavor, ao nosso sentido de guerreiro ou de guerreiros, como Gonçalo Mendes da Maia.
Uma vez que este concelho, depois de ter se desmembrado no século XIX e ter perdido muito espaço territorial, é um concelho que não tem uma riqueza natural, evidente ou intrínseca e, portanto, se é o que é deve a muito boa gente, a muitos políticos, a companheiros meus que me antecederam e a muita gente, muito boa gente, muitos empresários, muitas pessoas humildes que desenvolveram este concelho e que o fizeram aquilo que hoje é.
MH: Lidera uma coligação que já vem gerido a Maia há mais de 40 anos. Qual é o segredo para manter uma Câmara Municipal durante 40 anos?
AST: É fazermos bem as coisas com rigor, transparência, honestidade; falando com as pessoas, sendo amigos delas, dizendo-lhes não quando não se pode dizer sim e dizendo-lhes sim quando se deve dizer sim. Portanto, é uma atitude diária de permanente desassossego, de querer fazer sempre mais e melhor em benefício das pessoas.
Os políticos, a Câmara Municipal, os órgãos autárquicos existem para servir as pessoas. Obviamente que as pessoas também têm que saber posicionar-se, saber estar, investir. Este concelho é um concelho predominantemente empreendedor, somos o maior exportador da Área Metropolitana do Porto (AMP), somos o quarto maior do país. O nosso orçamento é o terceiro, em valores absolutos, da AMP, só o Porto e Gaia é que têm um orçamento em termos absolutos maior do que o nosso, mas em termos relativos, atendendo à população que, a Maia tem 138 mil e um orçamento de 283 milhões de euros este ano. Portanto, em termos relativos, é o maior orçamento da área metropolitana do Porto.
Todos estes fatores se conjugam de uma forma virtuosa e fazem de nós um ecossistema pujante, muito magnético.
Estamos no Parque Urbano dos Moutidos, que juntamente com todos os outros 18 parques que dispomos no concelho e os jardins de proximidade, fazem de nós o segundo município com maior área verde pública tratada na AMP.
Portanto, não é fácil manter, porque é preciso trabalho, desempenho, estudo, e nós fazemos isso. A nossa equipa, quer política, quer técnica, faz isso todos os dias em benefício das pessoas, em múltiplas áreas da atividade pública municipal.
MH: Há aposta na continuidade, mas há quem diga que há uma falta de transparência…
AST: Mentira. Recentemente, fomos considerados o terceiro município do país com maior índice de transparência. Portanto, onde é que existe esse testemunho? Existe em estudos que são feitos por entidades independentes e que os publicam. No início do ano, saiu o estudo, de uma entidade independente, em que nos coloca em terceiro lugar. Portanto, somos o terceiro município mais transparente do país.

MH: Mas concordará comigo que no concelho, em geral, as coisas não estão na sua perfeição, podiam sempre estar melhor. Quais seriam as suas prioridades numa eventual reeleição?
AST: Eu tenho vários projetos em desenvolvimento. Desde a segunda linha da Metro do Porto, que liga o Hospital de São João ao Aeroporto, varrendo uma circular por Pedrouços, Águas Santas, Milheirós, Gueifães, Vermoim, Maia, Moreira e Vila Nova da Telha. O projeto está a ser ultimado e vai ficar pronto este ano. O compromisso que temos, quer deste governo, quer até do anterior do Partido Socialista, é que esta linha 2 da Maia ia sendo desenvolvida, ia ser lançada a empreitada no ano de 2026. O investimento ronda os 500 milhões de euros e é uma empreitada que se faz em quatro anos.
Uma outra realização é o Corredor Verde do Rio Leça. Já fizemos uma parte (Ponte de Moreira), juntamente com Matosinhos e agora lançamos uma empreitada nova para fazer o troço na Maia do Corredor Verde do Rio Eça. Está em concurso público, de 2 milhões e meio de euros. Portanto, haverá uma primeira fase e uma segunda fase. Terá que estar feito no próximo mandato. Veremos nos próximos 4 anos, se quiser.
Um terceiro investimento é a nossa estratégia de habitação social. É um programa que nós temos assinado com o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), que é quem tem a obrigação de fazer habitação para os portugueses, embora as câmaras o ajudem e a Câmara de Maia ajuda sempre. Neste momento temos 18 empreendimentos em curso, que
somam 520 fogos, de um total de 784 e terão que ficar prontos no próximo ano. Essa é a exigência do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Portanto, esses empreendimentos estão espalhados pelas nossas freguesias, mas não em todas ainda, porque ainda faltam cerca de 230 fogos para completar os tais 734. Portanto, esses 230 que nos faltam vão completar o programa e as 10 freguesias do concelho.
Na região norte, somos o município que tem mais casas novas em construção. Há municípios que evoluíram pela reabilitação de casas existentes, mas isso não cria oferta nova de habitação. Cria as mesmas, renovadas ou reabilitadas.
Já temos terrenos e projetos, mas não são PRR. Vão ser o programa da estratégia local- o 1º Direito- e tratam-se de casas para renda acessível, ou seja, para famílias com necessidades de habitação e com algumas dificuldades económicas. Vão ser também para jovens e casais jovens, com rendas acessíveis aos seus rendimentos, e depois vai haver uma fatia para renda apoiada, isto é, para pessoas com mais fragilidades, ainda de condições económicas.
Estamos a criar regulamento, para que possamos entregar as habitações aos maiatos que precisam delas.
Na área da saúde, estamos a construir cinco equipamentos na área da saúde primária: duas unidades de saúde familiar novas, uma em Moreira e outra em Milheirós; estamos a reabilitar em Águas Santas e em Pedrouços; estamos a construir um grande equipamento no centro da cidade, um parque de saúde pública- aquilo que antigamente se chamava a Delegação de Saúde da Maia e que têm uma unidade de saúde familiar também incorporada, estão nas instalações da Misericórdia da Maia. Vão passar, daqui a um ano e pouco, para esse novo empreendimento, localizado na Avenida Dom Manuel II e as obras já começaram. Trata-se de um investimento de 13 milhões de euros.
Em setembro vão iniciar-se as obras de um hospital privado, do grupo Trofa Saúde, um investimento da ordem dos 70 milhões de euros. A Maia vai poder dispor, dentro de dois anos, esse é o compromisso desse grupo privado, de um hospital com urgência, blocos operatórios, tudo o que é um hospital de ponta e altamente equipado tecnologicamente.
Estamos agora a construir a Civibox, uma espécie de um centro comunitário de última geração, junto aos Jardins do Sobreiro, um investimento de 5 milhões de euros.
Já iniciamos a esquadra e a divisão da PSP da Maia, um investimento de 4 milhões de euros, onde vai colocar, nos próximos dois anos, cerca de 150 agentes da PSP, para que a Maia esteja mais robusta e a comunidade esteja mais segura.
Estamos a construir, na Rua Engenheiro Eduardo Pacheco, um equipamento para a nossa Polícia Municipal, com um investimento de 4 milhões de euros.
Portanto, são investimentos muito fortes e que eu espero que vá dar um grande impulso para o melhor de todo o município.
Há um outro projeto, relacionado com o Corredor do Rio Leça, que é intervir nas ribeiras, designadamente a Ribeira de Leandro, a Ribeira do Arquinho e a Ribeira dos Morros. Essas três ribeiras merecem ser melhor cuidadas e era uma ambição que eu tinha. Estamos a criar um percurso pedonal mais contido, cuidar do leito dessas ribeiras para que a água corra melhor e que no inverno elas não tendam a transbordar tão facilmente.
Temos um grande projeto, que é a tunelização da Estrada Nacional 14. É uma ferida que está há décadas e que perturba a funcionalidade da cidade. Assinamos um protocolo no início de setembro com as Infraestruturas de Portugal (IP) e com o Ministério das Infraestruturas e Habitação, uma vez que a Estrada Nacional é do Estado, e vamos lançar uma empreitada no sentido de realizar essa obra o mais depressa possível. Pretendemos tunelizar a EN14 e construir, em cima, um parque verde linear no centro da cidade, para que pessoas possam usufruir ainda mais deste espaço verde e cumprir, desta forma, a lei do ruído, que é algo que não está a ser cumprido hoje com a EN 14.
Temos um outro projeto muito importante, que é a criação daquilo a que chamamos Cidade de cinco minutos, localizada perto da Estação de Metro de Mandim e na Zona Empresarial Maia 1. A Zona Empresarial Maia 1 é a maior do norte do país e aquela que é bem organizada e estruturada a todos os níveis, mas não tem nenhum equipamento, não tem um hotel, não tem um restaurante, não tem uma farmácia, não tem um supermercado. Vamos desenvolvê-lo numa área com cerca de 50 hectares, criando empresas de base tecnológica para jovens, habitação para jovens, jardins, praças, creches, ginásios, farmácias, escritórios, cafés, restaurantes e hotéis. No fundo vamos criar microcidade, em que tudo acontece num espaço de cinco minutos.
Vamos convidar os proprietários a participar neste projeto, obviamente com vantagem para eles também e para a comunidade. Nesse projeto ainda há dois equipamentos fortíssimos- um pavilhão multiusos e um museu de artes digitais, com oficinas para os artistas poderem desenvolver os seus talentos.
Esse projeto foi aprovado pela Câmara por unanimidade e agora vamos desenvolvê-lo no território.
Há um outro projeto em desenvolvimento, que é o Parque Metropolitano da Maia, uma área com cerca de 350 hectares, em que queremos desenvolver um conjunto de objetivos e de projetos de inovação social, fazer cidades sociais, para que as pessoas possam viver confortavelmente nesse território. O Parque Metropolitano foi pensado para que não seja um espaço de exclusão, que também tenha juventude e tenha outras faixas etárias e que tenha também uma componente de agricultura biológica, uma vez que somos um município historicamente agrícola. Queremos que tenha uma componente empresarial, também de base tecnológica, para criar emprego bem remunerado, para que as pessoas possam viver com bons vencimentos. E depois num ambiente altamente qualificado em termos ambientais, isto é um ecossistema em que esta área seja um parque para a metrópole.
Portanto, são estes projetos que nós temos e que eu particularmente tenho na minha mente, independentemente de tantos outros, mas estes são os mais evidentes e os mais destacáveis.
MH: Certamente pensa numa vitória. No caso de não obter a maioria no executivo, está disposto a dialogar com todos os partidos ou já exclui algum?
AST: Não excluo ninguém. Sou uma pessoa de consensos e gosto de dialogar. A política municipal é feita de proximidade e de consensos, portanto não tenho relutância nenhuma em falar com quem quer que seja. Dou-me bem com todas as pessoas, embora obviamente espero que os maiatos, que me habituaram a ter essa confiança neles, saibam escolher bem as pessoas e os projetos e eu acho que o Maia em Primeiro é o melhor projeto e tem demonstrado ao longo dos anos isso mesmo.