Os Serradores Braçais da Maia

Os Serradores Braçais da Maia

Durante séculos, os serradores braçais da Maia tiveram um papel importante na indústria da serração de madeira.

A extinção desta ancestral e artesanal actividade deu-se apenas no fim da década de 1950.

A proximidade à Cidade do Porto, os portos e estaleiros navais entre o Porto e Vila do Conde, e a existência de extensas zonas florestais propiciou à Maia ter essa importante indústria que fornecia o tabuado às diversas aplicações em carpintaria.

Nas bouças os serradores braçais montavam a “burra”. Dois cavaletes desnivelados onde colocavam um grande toro de madeira em cima preso com cordas ao cavalete mais pequeno, e com uma grande serra manual manobrada por 2 homens, um em cima do toro e o outro em baixo puxando alternadamente, faziam a serração depois de serem marcadas as linhas de serragem com um fio molhado em ocre diluído esticado de ponta a ponta e que com um esticão no meio fazia a marcação da linha de corte.

O Inquérito Industrial de 1881 feito a todo o Distrito do Porto revela-nos que nessa época a Maia tinha 63 serradores braçais, Matosinhos 64 e Vila do Conde 36, quase a totalidade do Distrito, nos restantes 13 concelhos haveria apenas mais 20. Ocasionalmente o número de serradores braçais era muito maior.

Tendo em conta que a extensão do concelho da Maia, até poucas décadas atrás, se estendia até o Rio Ave e ocupava parte de Matosinhos, podemos concluir que a quase totalidade desta actividade era executada por Maiatos.

Gravuras da época dos descobrimentos mostram-nos que a serragem de grandes tábuas e outras peças para a construção dos barcos eram feitas por meio de grandes serras manuais manobradas por 2 homens, tal e qual como ainda vimos na década de 1950.

Os antiquíssimos estaleiros de Vila do Conde donde saíram tantas naus dos Descobrimentos Portugueses usaram, provavelmente, madeira trabalhada pelos serradores braçais da Maia.

A primeira evolução técnica à serração braçal foi a serração hidráulica que aproveitando os caudais de água dos rios e ribeiros, acrescentavam nos moinhos a serração mecânica da madeira. Em 1881 o Inquérito assinala a existência de 7 serras hidráulicas em Vila do Conde, 6 em Santo Tirso, nenhuma em Matosinhos e na Maia.

A descoberta da máquina a vapor veio permitir o aparecimento no princípio do século XX das serrações mecanizadas com alto rendimento.

Com a electrificação nacional nos anos 30 aparecem os motores eléctricos e então aparecem serrações modernas por todo o país que alteram por completo a história da serração da madeira.

Uma das primeiras serrações eléctricas da Maia foi fundada por Armindo Moreira “Perricudo”, situada em Moreira no lugar da Guarda, criada por volta de 1943.

Essa serração continuou a utilizar ainda o serviço dos serradores braçais, que faziam agora os serviços mais difíceis, como as grandes e compridas vigas para as casas.

No fim da década de 1950, a revolução Industrial que então se iniciou em Portugal veio por fim a uma das mais importantes indústrias da Maia antiga.

Janeiro 2023
Fernando Teixeira

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