O Turismo como fator de desenvolvimento regional
Os dados mais recentes indicam que o setor do Turismo não só recuperou totalmente após a pandemia, como atingiu já novos recordes em Portugal. Números oficiais mostram que o consumo no setor contribuiu diretamente com 9,7% do PIB em 2024, com aumentos de 4,0% nas dormidas, 5,2% no número de hóspedes e de 8,8% nas receitas turísticas, num reforço e consolidação da posição de Portugal como um destino competitivo a nível internacional.
Para termos uma ideia da importância do setor, o peso do Turismo nas exportações globais portuguesas em 2024 foi de 20,8%, mas esse valor sobe para quase metade (48, 1%) quando olhamos apenas para as exportações de serviços. Além disso, é um setor que, no ano passado, foi responsável por 6,1% do emprego total.
A verdade é que, qualquer que seja a forma como olhemos para os números, a realidade é só uma: o Turismo é uma peça-chave da economia portuguesa.
Contudo, nem tudo são rosas. É que este incremento sofre de grandes assimetrias, uma vez que as regiões da Grande Lisboa e do Algarve arrecadam para si uma fatia significativa destas receitas – mais de 50% do total.
Não existem formas fáceis de inverter, ou sequer de mitigar, este panorama. Até porque as receitas do Turismo estão ainda fortemente dependentes dos investimentos em infraestruturas hoteleiras. Para quem tem como responsabilidade gerir municípios fora destas duas grandes áreas geográficas, as opções para captação de investimento turístico – por outras palavras, formas de trazer até si turistas capazes de gastarem o seu dinheiro na economia local – são sempre forçosamente limitadas.
É neste contexto que valerá a pena considerar a implantação das chamadas ASAs, ou seja, Áreas de Serviço para Autocaravanas. Ao contrário dos parques de campismo tradicionais, estas áreas não carecem de grande espaço (apenas o necessário para o estacionamento dos veículos, a par de algumas infraestruturas de apoio) e podem ser criadas de forma rápida e sem custos diretos para as autarquias.
Pelo contrário, os benefícios para as regiões são palpáveis e imediatos. Por um lado, captam mais facilmente visitantes internacionais, que utilizam as suas autocaravanas para conhecer outros países e favorecem as regiões com infraestruturas de apoio e, por outro, podem constituir-se numa interessante fonte de receita para os detentores dos espaços, sejam eles privados ou entidades autárquicas.
De acordo com as estatísticas mais recentes, existem na Europa cerca de 3 milhões de autocaravanas, das quais apenas cerca de 13.000 estão registadas em Portugal. Atualmente, há mais de 6,5 milhões de turistas itinerantes europeus e, com mais de 3,75 milhões de pernoitas anuais em autocaravana, Portugal é um dos locais com um forte potencial para o turismo itinerante do sul da Europa – existe uma grande margem de desenvolvimento, uma vez que estas viagens representam hoje apenas 3,5% do total de dormidas anuais do país.
Uma sondagem recente realizada entre milhares de clientes, de diversas nacionalidades, da maior rede europeia de ASAs revelou que uma elevada percentagem dos inquiridos considera que o desenvolvimento dessa rede seria uma forte razão para visitarem Portugal na sua autocaravana – um valor que é particularmente elevado entre os espanhóis (88,75%) e franceses (82,8%).
Uma ASA não é certamente um hotel. Mas tem ainda assim capacidade de captação turística e, ao contrário de uma unidade hoteleira, pode ser criada rápida e facilmente, com um investimento extremamente reduzido.
Esta não será a primeira ideia que nos ocorre quando pensamos em ferramentas para aumentar o investimento turístico fora das zonas tradicionalmente mais visitadas do país. Mas as boas ideias nem sempre são as mais óbvias. Resta-nos ter a coragem e clarividência para as pormos em prática.
Rui Monteiro
Manager da Camping Car Park Portugal