O Krav Maga na vida do instrutor Rui Teixeira

O Krav Maga na vida do instrutor Rui Teixeira

Foto D.R.

Rui Teixeira é, desde 2013, instrutor de KravMaga na escola Bukan. Conheceu esta arte marcial em 2010, através do Mestre Cristiano Magalhães (faixa preta 2º dan da escola Bukan).

Natural de Ramalde, este atleta de 39 anos, despediu-se do seu antigo trabalho para fazer Licenciatura de Desporto e, posteriormente, Mestrado em Exercício Físico e Saúde. Atualmente é professor de educação física na Universidade da Maia.

Em 2020 realizou o seu sonho abrindo a sua Academia de Krav Maga na Maia.

Maia Hoje (MH): É instrutor de Krav Maga há algum tempo?

Rui Teixeira (RT): Sou instrutor de Krav Maga na escola Bukan desde 2013. Conheci o Krav-Maga em 2010 através do Mestre Cristiano Magalhães (faixa preta 2º Dan da escola Bukan). Em 2020 fundei a Academia de Krav Maga da Maia.

MH: Consegue definir muito rápido o Krav-Maga e a sua história?

RT: É a arte marcial de defesa pessoal, criada por Imi Lichtenfeld em Israel nas décadas dos anos 60’ e 70’ do século XX. Eu vou falar um bocadinho da história. Muito rápida. Então o nosso Grão-Mestre é o Yaron Lichtenstein que foi o criador/fundador da escola, na realidade, ele recebeu a escola como prenda do criador do Krav-Maga, Imi Lichtenfeld. Imi nasceu em Bratislava, no dia 26 de Maio de 1910. Imi trabalhou no circo como trapezista e arremessador de facas. Tinha uma das maiores e melhores escolas de Valsa em Viena de Áustria. Era campeão europeu pesos pesados de Boxe Inglês, campeão Europeu de luta Greco-romana e faixa preta de Judo e de Ju-jitsu Japonês Tradicional. Trabalhou no exército israelita durante a 2ª Guerra Mundial, mas só em 1966, quando se aposentou, é que decidiu começar a criar o Krav-Maga. Yaron Lichtenstein, nasceu na cidade de Rehovot, Israel, no dia 21 de Agosto de 1953. Ele é o segundo aluno do criador, e o seu discípulo mais graduado. Yaron conheceu Imi em 1966, aos 13 anos de idade e desde então, passou 27 anos a acompanhar diariamente o seu mestre, aprendendo e praticando a sua arte.

MH: Qual foi o factor que motivou a decisão de ser instrutor de Krav-Maga?

RT: Na altura, consegui perceber que o Krav-Maga não era só apenas uma arte marcial de defesa pessoal. Era muito mais. Consegui perceber que o Krav-Maga ajuda as pessoas. Ajudou-me a mim, quando comecei a treinar. Alguns defeitos que eu tinha, não é que não tenha defeitos, mas alguns defeitos que eu tinha, algumas incapacidades, foram ajudadas, e muito, pelo Krav-Maga. E eu pensei, se o Krav-Maga me ajudou a mim, eu também consigo fazer com que o Krav-Maga ajude outras pessoas. Essencialmente foi essa a minha ideia, e continua a ser. Toda a gente que passa aqui na academia de Krav-Maga da Maia, 100% ajudá-los naquilo que querem e que precisam. E às vezes as pessoas, chegam ao Tatami e nem sabem aquilo que elas precisam. Às vezes elas vêm aqui à procura de apenas uma defesa pessoal, e percebem mais tarde que aquilo que elas precisavam mesmo não era aprender defesa pessoal, era por exemplo ganhar confiança. E essa sim, foi a verdadeira razão de eu querer ser instrutor.

MH: E enquanto aluno, porque uma pessoa nunca deixa verdadeiramente de aprender, tem alguma dica?

RT: Treino. Treino, treino, treino, treino. Treinem sempre.

MH: Que impacto têm os seus pupilos na modalidade e na sociedade?

R: Eu considero-os todos iguais. Uns são melhores nisto, outros são melhores naquilo. Cada um tem de treinar as suas dificuldades. Para mim são todos importantes ao mesmo nível. Respondendo à segunda parte, se têm algum impacto na sociedade: sim, muito. Se toda a gente praticasse Krav-Maga, na nossa escola principalmente, a sociedade, acredito que iria ser diferente. Há muitos valores que nós passamos aqui, que depois se transmitem daqui para lá para fora, para a vida da pessoa. A pessoa acaba por deixar de treinar Krav Maga, e viver o Krav-Maga. Levanta-se de manhã, e começa a fazer as coisas como faz no Krav Maga, na arte marcial em si.

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MH: Sente que a sua carreira académica tem impacto, ou de algum modo influencia pela positiva, as suas práticas de ensino?

RT: Eu, quando fiz o curso de Krav-Maga e comecei a dar aulas, eu percebi que me faltava qualquer coisa. Tinha ali algumas lacunas que eu precisava de trabalhar, então comecei a fazer alguns cursos. Pequenos cursos, algumas leituras, uns livros e assim, sobre exercício físico, sobre a psicologia do desporto, várias coisas que eu achava que me iam ajudar nas aulas, até que percebi que eu tinha de fazer algo mais. Eu quero ser melhor instrutor do que era ontem, e por isso eu tinha que fazer alguma coisa. Foi na altura que eu decidi despedir-me do meu trabalho, onde trabalhava como técnico de reparações, e fui fazer Licenciatura de Desporto. Quando acabei quis aprofundar ainda mais, então ainda fui fazer o Mestrado em Exercício Físico e Saúde. Isto tudo porque eu gosto da área e porque eu sabia que isto me ia ajudar nas minhas aulas. Então sim, o percurso que fiz e que ainda faço todos os dias, ajuda muito nas aulas.

MH: A prática de Krav-Maga não é uma prática/desporto federado. Tem alguma opinião em relação a isso?

RT: O Krav-Maga é uma arte marcial de defesa pessoal e só assim é que o pode ser. Não pode existir competição. Isso iria contra os princípios. A arte marcial é totalmente diferente de desportos combate. O desporto de combate sim, é federado, existem regras, é uma competição, umas vezes ganha um, umas vezes ganha outro. A arte marcial não. Na arte marcial não existe competição. Existe, se calhar, uma competição connosco, em que nós tentámos competir connosco para sermos cada vez melhores.

MH: A quem recomendaria praticar Krav-Maga? Crianças, jovens, adultos?

R: Todos. Todos. As crianças ficam mais e inteligentes. Vivem sem medo. Aprendem a controlar-se. Aprendem o que é respeito pelos outros. Ganham forma física e intelectual e terminam com o bullying nas escolas, e fora delas. Jovens e adultos? A mesma coisa, porque existe sempre jovens com medo, adultos com medo. Apesar de uma pessoa não falar muito nisso, existe bullying nos adultos. No trabalho principalmente. As mulheres sofrem de violência doméstica e não sabem o que é que hão de fazer. Se praticarem Krav-Maga elas nem precisam de se defender fisicamente. Elas vão aprender e nunca vão necessitar de se defender. Antes de aparecer a violência doméstica, elas já se estão a defender disso. Ou seja, nunca aparece. E depois tem tudo o resto de saúde mental e física. Ficam mais fortes. Ficam mais em forma e aprendem também a defender-se. Qualquer pessoa precisa. Na rua, fora, ou assim porque nós nunca sabemos. Nós podemos estar na rua com os nossos filhos ou com a nossa mulher e chegar uma pessoa qualquer, um bandido qualquer e tentar-nos assaltar ou tentar fazer alguma coisa, e se nós nos soubermos defender, é meio caminho andado para sairmos ilesos.

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MH: Qual é o princípio ou regra do Krav-Maga com o qual tem mais afinidade?

RT: Regra n.º 15: «A mediocridade é o inimigo número 1 do Krav-Maga e de toda a Humanidade”. Se nós fizermos as coisas só porque sim, só porque «vai e é rápido e siga para a frente» nunca vamos ter sucesso em nada. Tudo aquilo que nós fazemos, como artista marcial, tem de ser perfeito.

MH: Qual é a sua habilidade/técnica favorita e em que consiste?

RT: Eu não tenho nenhuma técnica em específico, mas sem sombra de dúvida que me identifico mais com os pontapés, e até mais com pontapés voadores. Nós temos cerca de 78 pontapés diferentes.

MH: Por último, sabemos que na gíria futebolística prognósticos só se fazem no fim do jogo, mas quais são as suas perspectivas para o futuro da modalidade?

RT: Ok. Em relação à nossa escola, cada vez somos mais, cada vez somos melhores, e cada vez estamos mais espalhados pelo país, o que é muito bom para as pessoas poderem aprender.

MH: A terminar, alguma mensagem especial para os nossos leitores?

RT: Venham treinar. Aprendam Krav-Maga. Aprendam a defender-se. Aprendam o que é viver sem medo nas vossas vidas. A partir do momento em que vocês aprenderem a viver sem medo, tudo é muito fácil. É isso.

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