«Na Maia não temos democracia»
Numa entrevista concedida ao Maia Hoje, Helena Pedroso, diz haver falta de alternância democrática na Maia, principal motivo que a levou a candidatar-se pelo partido Juntos pelo Povo (JPP) à presidência da Câmara Municipal.
A candidata traça as linhas mestras do seu programa, sublinhando prioridades como a transparência na gestão autárquica, o reforço da ação social, o apoio à natalidade e à habitação jovem, além de uma aposta clara na proximidade aos cidadãos. A ex-vereadora desafia os eleitores a refletirem sobre o futuro do concelho e a necessidade de mudança.
Maia Hoje (MH): Quem é a cidadã Helena Pedroso?
Helena Pedroso (HP): É uma cidadã sempre interessada com o que a rodeia e o que nos rodeia, especialmente e sobretudo após ter sido mãe. Que legado vamos nós deixar à geração seguinte, aos nossos filhos, aos nossos netos e a estas gerações mais novas. Portanto essa preocupação sempre fez com que eu tivesse muita intervenção, nomeadamente na área da educação, porque acho que a educação é um tema muito sensível e onde podíamos mudar muito a vida em sociedade.
É uma cidadã muito interventiva nas outras instituições do concelho, como por exemplo bombeiros e instituições ligadas à área da criança. A criança e a educação sempre me moveram e motivaram muito. Eu acho que não me lembro de mim sem participar ativamente em alguma instituição e em ajudar a comunidade.
MH: Como é que nasceu a candidatura maiata?
HP: O que me motiva muito a esta candidatura é, desde logo, o facto de eu ter nascido e ter sido criada na Maia. Eu sempre vi estes senhores, da coligação Maia em Primeiro, a serem os candidatos, ou seja, as pessoas são sempre as mesmas, o que há é mudança de lugares. É uma coisa que me lembro desde os meus tempos de escola.
Eu lembro-me que o presidente da Câmara era o professor Vieira de Carvalho; sucedeu-lhe o engenheiro Bragança Fernandes; já era vereador na altura, o engenheiro Tiago, e, portanto, são essas pessoas que ainda cá estão hoje, volvidos estes anos todos. E isso é que me motiva, porque não há democracia sem alternância, não há democracia sem alternativas. Parece que a Maia se encerra num ciclo de pessoas, nem tão preocupada se bem, se mal, se boa ou má governação, que são as escolhas que fizeram, não é que eu concordo com elas, senão não estaria aqui.
Mas parece que a Maia não tem alternativas, não tem hipótese de mudar. Parece quase um karma, estamos encerrados num karma, porque isto nem sequer é democracia. Assim, movida por essa vontade de que haja uma proposta diferente, uma alternativa, eu avancei para a candidatura.
MH: Já foi vereadora na Câmara Municipal da Maia, na coligação com o PS. Se for eleita vai privilegiar essa antiga aliança?
HP: Neste momento não há aliança nenhuma. Pretendo exercer o mandato com grande isenção e independência, acho que isso deve ser um dos princípios que nos devem nortear no nosso trabalho aqui. Não tenho qualquer apelo ou qualquer tendência a elaborar acordos com ninguém, nomeadamente com o PS, não pensei nisso, sinceramente.
Tenho a minha vida organizada, tanto profissionalmente, como pessoalmente e estou confortável com a vida que tenho. Este é um desafio que surge na minha vida e vem, de certa forma, desarrumar um pouco esta situação de tranquilidade. Surge por pensar no futuro e no melhor para a minha cidade e para as pessoas da minha cidade.
Não pensei no que vai acontecer depois das eleições e como nos vamos projetar, sendo que o grande lema é isenção e independência, sempre.
MH: Disse que o seu período no executivo foi «o único período em que existiu verdadeira oposição». Em que fundamenta essa afirmação?
HP: Já na altura, o presidente era o engenheiro Tiago, e senti que havia pouco respeito pela oposição e pelas perguntas e questões que lhe eram colocadas e isso deixou algum desconforto e alguma vontade de dizer “isto não pode ser”, nomeadamente, quando questionávamos relativamente a algumas rúbricas de contas. Havia como que um empurrar com a barriga, um não mostramos agora, vamos mostrar depois e depois nunca aparecia o dia efetivo para se mostrar aquilo que perguntávamos. Foi um período muito interessante e um período de oposição. Acho que a oposição tem de questionar com crítica, ser crítica e não dizer sempre que está tudo bem ou amén. Foi nesse sentido que eu usei essa expressão. Acho que nessa altura houve, efetivamente, um posicionamento de fazer alguma frente, de perguntar, de questionar, de ter uma posição crítica, de ter alternativas. Até em termos eleitorais, os resultados pareceram-me ser os melhores nessa altura em que a coligação apareceu, porque até aí o PS tinha tido resultados muito mais baixos.
MH: Quais são, no seu entender, as principais necessidades do concelho?
HP: Eu acho que a transparência é muito importante. A transparência vem também dessa altura em que exerci como vereadora, embora só entrasse em substituição. Surge uma necessidade enorme de fazer uma auditoria às contas; divulgar qual o resultado dessa auditoria; seria muito interessante criar o que chamaríamos de portal da transparência, em que todos os movimentos financeiros estivessem disponíveis para os munícipes consultarem e perceberem como é que o dinheiro da autarquia andava a ser gasto e com que finalidade.
Em relação ao ambiente, quero destacar o amianto, que considero ser uma questão muito pertinente. Temos uma Zona Industrial ainda com muito amianto existente. O que acontece é que a substituição do amianto se torna demasiado dispendiosa para os particulares e, portanto, a Câmara pode criar um programa especial de apoio a quem queira retirar o amianto e solucionar a questão da lixeira, de levar para sítios próprios.
No que diz respeito aos cursos de água, acho que esse é um projeto que até já possa ter começado, mas há mais cursos de água que precisam de ser limpos, torna-los mais agradáveis, aprazíveis as suas margens, uma vez que a água é um apelativo enorme para os nossos recreios.
Temos no programa a educação e a cultura, com bibliotecas e as coletividades. Acho que temos que aproveitar o que temos na comunidade, as nossas coletividades e tudo o que é e que surge do voluntariado e manter as nossas tradições vivas. Temos imensas coletividades e acho que é de passar por as incentivar a parcerias.
Temos inclusão e ação social, nomeadamente trabalhar a criança. Acho muito importante reforçar a rede de creches e infantários. Ainda temos um grave problema na atualidade, não é só da Maia, a Maia se calhar até está no sentido inverso a outras cidades, que é a demografia. Nós estamos com um envelhecimento da população e não nascem crianças. A construção de creches é um grande incentivo aos pais, assim como criar incentivos à paternidade, à maternidade e ajudar os jovens.
Temos no programa a questão da Habitação. Esta questão demográfica, da oferta aos jovens de possibilidade de constituir família, de se fixarem, terem uma residência, uma habitação, são dificuldades enormes que se sentem hoje e que podemos, como autarquia, ajudar e minorar essas dificuldades que as pessoas tenham.
Não é possível que os jovens queiram constituir família se não têm um lar, se não têm um sítio onde assentar, se não têm possibilidades de pagar para ter a sua casa. Eu sou muito sensível a esta questão, porque percebo, através dos meus filhos, que estão na ansiedade de constituir família, a dificuldade que têm.
Depois temos a questão dos idosos. Os lares e os nossos centros de dia também são insuficientes e, portanto, compete a Câmara criar mais soluções para acolhermos aquelas pessoas que não têm outro tipo de apoio, não podemos deixá-las sozinhas e sabemos que isso está a acontecer. Enquanto comunidade e sociedade temos que nos esforçar para criar mais soluções nessa área também.
O empreendedorismo é muito importante no nosso país. Os nossos jovens têm de ser empreendedores, porque é desse empreendedorismo que há a criação de riqueza, de conhecimento e de investigação.
No nosso programa pensamos também nas pessoas com deficiência, que acho que ainda não pensamos o suficiente e acolhê-las no mundo de trabalho. De certa forma são pessoas com diferenças, mas muitas vezes podem ser muito válidas e prestar um bom trabalho.
Socialmente, criar os gabinetes do apoio social, que pode ser um gabinete multidisciplinar com muitos apoios. Percebe-se que as pessoas estão a precisar, muitas vezes, de apoio psicológico, não só financeiro. Acho a educação social um tema muito sensível e que temos que ter mais, há muitos grupos que poderiam beneficiar disso.
No desenvolvimento municipal, possibilitar que os maiatos participem nas tomadas decisões. Este orçamento participativo parece-me muito interessante, o trazer as pessoas à decisão política, trazer as pessoas a manifestarem as suas vontades, as suas pretensões. Proximidade com os cidadãos.
Eu ainda não divulguei a minha candidatura no meu Facebook, porque se torna difícil. Gostava que as pessoas percebessem isto e estar aqui um bocadinho com esta transparência e com esta vontade de não ser tão formal. A política é tão formal que afasta as pessoas e afasta os mais jovens. O que é lamentável e é uma pena.
Vamos ser mais informais um pouco. E, sim, isto é tudo de repente e não tem uma estrutura, nem uma máquina por trás. Isto é um grupo de cidadãos. O JPP, no fundo, é um grupo de cidadãos que se junta e vem apelar a outros cidadãos para que venham e trabalhem.
Na saúde seria importante tentar que o SASU retomasse o funcionamento diário até às 00h00, incluindo os fins de semana, que já aconteceu. Parece-me que não é uma proposta descabida e acho que para emergências, nomeadamente de pediatria e tudo mais, funcionaria muito bem. É uma questão que colocava na agenda e gostava de a transformar numa realidade.
MH: O JPP começou por ser um partido quase de protesto, com a grande maioria dos seus membros a serem dissidentes do PSD? Dizem-nos que foi ciclo fechado. Dizem-nos que foi um ciclo fechado. Pergunto-lhe o que é o JPP Maia agora? Qual a sua base de apoio?
HP: O partido tem criação na Madeira. Julgo que eles sentiram a necessidade de reverter aquela situação, porque também tinham alguém que já lá estava há muitos anos, quase eternamente.
É realmente estranho como é que às vezes algumas pessoas perduram e se mantêm, parecendo que nem há alternativas. É um movimento de cidadãos independentes, que se junta para fazer esta oposição a quem está há tempo demais, a quem não é transparente, a quem não usa da transparência para a sua governação.
Tendo conseguido bons resultados na Madeira e, recentemente, conseguiram eleger um deputado na Assembleia da República pelo círculo da Madeira, pretendem através desta formalidade da Constituição do partido ajudar outros cidadãos independentes, outros movimentos independentes. No ato eleitoral é diferente avançar como candidato independente ou avançar enquanto apoiado por partido eleitoral. A forma que se arranjou ou que se conseguiu para apoiar alguns candidatos que queiram avançar, mas que não têm a estrutura confortável ou almofada confortável de um partido, foi como? Constituir um partido que se chama Juntos pelo Povo.
No fundo, a nossa independência e isenção é muito importante e são, de facto, levados para qualquer candidatura. O partido é a nossa almofada, se calhar não é tanto a forma que nos importa aqui. É um movimento de cidadania, mas que se reúne, que se congrega para ultrapassar essas questões formais que podiam ser impeditivas de candidatura. Esse é o nosso objetivo, é trazer para o continente esse movimento e fazê-lo crescer.
MH: Porquê que os maiatos devem depositar a sua confiança no JPP e em si?
HP: Porque eu acho que são as pessoas que fazem as instituições e não são as instituições que fazem as pessoas.
E porque efetivamente tenho um grande amor à Maia. Sempre trabalhei em instituições ligadas à Maia e, sobretudo, às pessoas da Maia, com quem criei muitos laços e, portanto, fazer o melhor pela Maia. Vou voltar a dizer, não é possível que a democracia exista, na verdadeira aceção da palavra, se não existir alternância alternativa.
Neste momento, na Maia, temos ciclos eleitorais, elegemos, mas não temos democracia. Parece-me, mas deixo bem isso à reflexão de todos e é a minha própria reflexão neste momento. Na Maia não temos democracia.
MH: Nestas eleições, o que é que seria um bom resultado, uma vitória para o JPP?
HP: Deixo isso para os eleitores. Estou de alma e coração nisto. Sempre trabalhei para a comunidade, gosto de trabalhar para a comunidade. Sempre trabalhei até em regime de voluntariado. Depois do meu trabalho, da minha vida pessoal, ainda arranjava tempo e vontade para trabalhar para a comunidade e é com esse espírito, com essa vontade que estou.
Não faço nenhum diagnóstico, não quero fazer, portanto, coloco-me mesmo nas mãos das pessoas da Maia. Se quiserem, estou cá para arregaçar as mangas, trabalhar, dar o meu melhor. Se não quiserem, volto aqui para o meu trabalho no dia seguinte e faço o que sempre fiz, ser advogada e ajudo muito as pessoas nesse trabalho também, portanto, é para isso que cá estamos, para nos ajudarmos uns aos outros, colaborarmos uns com os outros.