Maia: apenas mais uma cidade satélite?
Sou uma das 40 mil pessoas que, segundo o INE, sai da Maia logo após acordar. Tendo passado tantos anos o meu quotidiano na Maia, e passando-o atualmente no Porto, deixo algumas notas sobre como está a Maia, para mim, e em relação às cidades circundantes.
Também segundo o INE, a Maia tem cerca de 90 mil cidadãos adultos, sendo este o grupo etário que mais se movimenta e consome. Parecem-me demasiados possíveis consumidores para a Maia ter tão poucos terceiros espaços atrativos, tão poucas ofertas de diversão noturna (silent parties não acordam ninguém), para não ter atividades sociais diferenciadoras e para ter um centro comercial “às moscas”. Para termos uma Maia mais viva e mais rica, não podemos só satisfazer as nossas necessidades, mas dar às pessoas razões para nos frequentar.
Os terceiros espaços são os nós sociais de uma comunidade, os espaços onde as pessoas se reúnem fora do contexto casa-escola-trabalho.
Aceitemos uma premissa fundamental: onde há pessoas, há potencial. Daí deriva que, existindo tantas pessoas no município, o gigante potencial destas está claramente a ser desaproveitado. E o pior é que não há um estudo sobre isto. O que falta ao Centro Comercial Venepor para aproveitar este potencial? O que falta ao Bairro do Sobreiro para desenvolver o seu próprio comércio? O que falta para a criação de terceiros espaços mais vivos? E como está a situação nas diversas freguesias?
Certo, o financiamento dos municípios não é tanto quanto se deseja. Mas é também certo que as autarquias devem ser capazes de atrair o setor privado para que invista, começando por acabar com a derrama sobre o IRC, e procurar desenvolver ideias inovadoras. Mesmo sem o envolvimento do setor privado, penso que dos mais de 60 projetos na Maia, financiados pela União Europeia em valor superior a 30 milhões de euros (dados do Portal Mais Transparência, https://transparencia.gov.pt/pt/fundos-europeus/prr/beneficiarios-projetos), se podiam esperar melhores resultados. Acredito que tal passe, não tanto por financiamento, como sim pelo diálogo com a população, de diversas idades, diversas ocupações e das várias freguesias da Maia. As pessoas costumam saber o que querem.
O município tem ótimos espaços desde complexos desportivos municipais, o eco caminho e bons parques de vizinhança. Em determinadas épocas festivas, consegue até atrair pessoas para eventos e alegrar a semana das pessoas. No entanto, sobra o resto dos espaços e o resto do ano, e é importante para a Maia conseguir identificar melhor os seus focos de potencial e conseguir aproveitá-los, visto que a consequência de não o fazer é a sua cristalização como cidade satélite. Ou seja, ser uma cidade na qual as pessoas vivem e trabalham, mas têm de se deslocar ao Porto e Matosinhos para ir ao shopping, fazer escape rooms, consumir cultura e beber uns copos com os amigos na discoteca, especialmente se não tiverem (como não têm) redes de transporte que as sirvam durante a noite.
Guilherme Alexandre
Estudante de Direito na FDUP