José Manuel Ribeiro: «Sinto que há muita vontade de mudar!»
O Maia Hoje, o premiado jornal de referência do Concelho da Maia, o único em edição de papel, contínua há mais de 25 anos, em parceria com o diário online Jornal da Maia, faz, mais uma vez, a cobertura das eleições autárquicas. Damos o pontapé de saída nesta iniciativa e recebemos José Manuel Ribeiro, autarca, atual presidente da Câmara Municipal de Valongo, presidente da LIPOR, entre outros cargos, e agora, candidato do Partido Socialista à Maia.
Maia Hoje (MH): Quem é o cidadão José Manuel Ribeiro?
José Manuel Ribeiro (JMR): Antes de mais, obrigado pelo simpático convite e parabéns pelo trabalho que fazem. As comunidades precisam, nos tempos que correm e cada vez mais, de órgãos de comunicação social livres que esclareçam, que informem, que empoderem as pessoas. Portanto, o vosso currículo, a vossa pegada, é de louvar.
Sou um cidadão metropolitano. Nasci no Porto, cresci entre Valongo e Amarante (Marão, a terra dos meus pais), vivi no Funchal, em Gondomar, em muitos outros sítios e sou uma pessoa muito apaixonada pela vida, que tenho profissão, sou quadro sénior da ICEP. Tive a sorte de ser eleito presidente da Câmara e renovei duas vezes, portanto sou uma pessoa muito feliz.
MH: Como é que nasceu a candidatura maiata? Certamente ouviu várias pessoas a dizer, que é um “outsider”, ou seja, que não é um maiato de gema. Como é que responde a estas pessoas?
JMR: Muitas pessoas lançaram-me este desafio. Sou um autarca de proximidade, porque não gosto de estar metido no gabinete, gosto de andar junto das pessoas e percebo, aliás, a importância da proximidade. Não sou autarca de estar concentrado a tratar do urbanismo, não gosto nada do urbanismo. Gosto de cultura, educação, ambiente, cidadania e ajudar a resolver problemas.
Muitos maiatos disseram-me «agora que estás disponível, nós achamos que tu devias ser candidato à Câmara da Maia. A Maia precisa de um autarca como tu, diferente, uma pessoa próxima, uma pessoa empática, que gosta de pessoas, que gosta de fazer coisas, que gosta de andar no terreno» e então, depois de muito pensar, ouvir os meus filhos e as pessoas próximas, decidi, e porquê não? Nós tivemos, ao longo dos anos, na área metropolitana do Porto, muitos autarcas que foram marcantes nos territórios e não eram dessas terras. Aliás, nós temos aqui, a viver na Maia, a presidente, a grande presidente de Matosinhos, Luísa Salgueiro, e o grande presidente de Santo Tirso, o Alberto Costa, que vivem aqui na Maia.
Portanto, porquê não? A Maia ainda não experimentou um presidente que não vive na Maia. E porquê não? Sabe qual é a vantagem de uma pessoa como eu ser presidente da Câmara da Maia? É que eu sinto que há muita vontade de mudar. Eu sinto isso!
Na rua, nos contactos que vou tendo, as pessoas estão cansadas com o estilo que existe e com esta forma de ser presidente. Eu só tenho quatro anos para provar que sou um presidente diferente, mas também só preciso desses anos para que as pessoas percebam como é possível ser um presidente completamente diferente: que anda na rua, que fala com as pessoas e que faz muita coisa diferente.
Já tive a oportunidade de comunicar dois compromissos e eu vou apresentar soluções concretas. Eu não vou apresentar conversa furada. Para além do Turismo Sénior, já apresentei uma ideia muito interessante para derrotar a solidão, que é um programa que coloca os seniores em contacto com os jovens, com aqueles que têm mais energia. Nesta interação acontecem coisas maravilhosas.
Também apresentei uma outra proposta ligada às férias, direcionada a jovens e crianças. É muito acessível economicamente, inferior a 30€, mas tem qualidade e inclui todas as refeições; viagens entre atividades; todas aquelas entradas em programas; visitas a museus e muitos outros sítios.
Portanto, são este tipo de medidas que vou trazer para a Maia, porque eu acho que as pessoas estão muito cansadas daqueles políticos que anunciam 200 medidas e depois não fazem nada. Eu acho que nós temos que acabar com isso.
Portanto, mais do que aquela questão de dizer “o Zé Manuel Ribeiro não é um maiato que nasceu na Maia”, é explicar que, mais do que um maiato de gema, é preciso maiatos às claras. Acho que o expliquei de forma muito divertida e toda a gente conhece a minha posição sobre isso. Quero trazer ideias e ter uma oportunidade de mostrar que é possível ser diferente.
MH: A Maia é um concelho muito diversificado, com um ambiente urbano, mas também muito rural. O que é que acha que está bem e o que é que é preciso melhorar?
JMR: Eu acho que há duas realidades. Eu sou candidato desde janeiro e comecei cedo porquê? Porque as pessoas normalmente não conhecem os candidatos.
Hoje em dia, eu caminho na rua e já fui várias vezes às 10 freguesias. As pessoas abordam-me, falam comigo e noto que há aqui uma cidade, que é a Cidade da Maia, onde se juntou as três freguesias – Vermoim, Gueifães e a freguesia da Maia – uma cidade consolidada, onde é possível fazer muito ainda. Sendo eleito, vou candidatar a Maia à Capital da Cultura. A Maia não pode ficar satisfeita por ser só uma grande cidade económica e um concelho muito exportador. Quero que seja a Capital da Cultura e quero que os portuenses venham à Maia e não os maiatos irem ao Porto.
Nota-se que há um trabalho muito grande para fazer, por exemplo, na mobilidade. Todas as pessoas que vivem na periferia, desde Pedrouços, Águas Santas, Folgosa, São Pedro Fins, Silva Escura e nas zonas mais “rurais” como o Castêlo, Vila Nova da Telha, o que é que acontece? Se essas pessoas quiserem vir aqui, ao centro da Maia, no final do dia, jantar, ou virem a um programa cultural ou ao fim de semana, não têm transporte público.
Isso é uma prova muito clara de que há aqui uma necessidade de trabalhar a coesão. Portanto vamos trabalhar no sentido de tornar possível esta opção. Uma opção simples de se deslocarem à cultura, porque aqui a cidade da Maia tem oferta, tem condições, tem equipamentos e, portanto, é preciso resolver este problema de falta de coesão.
Há, de facto, uma Maia da cidade, da parte urbana, mas depois há uma outra Maia longe, mais afastada, onde há muitas dificuldades no acesso. Uma coisa que devia estar resolvida e não está ainda.
MH: Falamos aqui de várias medidas, mas quais é que são as suas prioridades?
JMR: Eu coloquei um outdoor, onde diz que tenho três prioridades: maiatos, maiatos, maiatos. As minhas prioridades são tudo o que são medidas ligadas àquilo que pode ser uma melhoria da forma de viver a Maia. Resolvendo aquele problema que lhe falei da mobilidade das zonas mais periféricas para o centro, mas apostando muito na habitação.
Naturalmente que a Câmara não pode perder um tostão ligado ao PRR (Programa de Recuperação e Resiliência), para aquilo que são as famílias mais carenciadas. Eu sou presidente da Delegação Portuguesa no Comitê Europeu das Regiões e sei que o próximo quadro comunitário vai trazer medidas específicas para a habitação para a classe média.
É preciso apostar na habitação para a classe média e agarrar nessas oportunidades que virão no próximo quadro comunitário. Colocar em cima da mesa todas as possibilidades: habitação com rendas acessíveis; construção de habitação pública; parcerias públicas ou privadas. Todas as possibilidades, mas como pedra de toque.
Vou apostar muito na questão da habitação através das cooperativas. As cooperativas foram muito importantes neste concelho e existe uma memória dos pais e dos avós que vieram para cá. Vamos agarrar nessa oportunidade das cooperativas e, com exemplos muito simples, através da cedência de terrenos, da isenção das taxas, da questão dos mecanismos das zonas urbanas, tudo o que são áreas de reabilitação urbana, onde é possível diminuir o custo do IVA para a construção e outros benefícios fiscais, e trabalhando muito, sensibilizando muito o Governo da República, para que junto da banca, existam linhas de crédito específicas para as cooperativas de habitação.
Porque isso é um modelo em que as pessoas percebem bem o benefício, estão a investir, estão a poupar, garantindo que as pessoas têm o esforço que fazem, quer nas rendas, quer na compra de habitação, lhes permite a ter margem para ter uma vida com dignidade, para poderem sonhar com o futuro com esperança.
Também quero apostar na questão da identidade. Acho que há uma história para contar neste concelho e por isso é que propus, logo numa comunicação inicial, criar a marca Maia Valley, como fez Oeiras. Eu não tenho nenhum tipo de problemas em reconhecer que há exemplos positivos. Oeiras há uns anos criou a marca Oeiras Valley e aqui podemos também criar Maia Valley, que é um vale que tem uma história com mais de 500 anos. Uma história em torno daquilo que é o talento, uma história que valoriza o passado ligado às atividades agrícolas, mas que hoje é muito e que ainda tem um tecido agrícola muito forte, quer do ponto de vista da produção dos kiwis e outro tipo de atividades, mas também ligados às bacias leiteiras que são muito fortes aqui na Maia e depois, naturalmente, contar esta história do mundo empresarial, do mundo industrial, estamos a falar, é uma das maiores áreas industriais de Portugal, é um concelho profundamente exportador e, portanto, também há necessidade de fazer isso e muitos outros projetos que eu vou apresentando ao longo dos próximos tempos, para que os maiatos possam na altura das eleições escolher entre duas formas de ser, entre duas formas de governar, entre dois presidentes diferentes.
Nós somos mesmo muito diferentes. O meu colega, que eu conheço bem, e eu, somos diferentes, é a diferença entre a água e o vinho.