Inteligência Artificial na Medicina Moderna: Reflexões sobre o Futuro da Prática Clínica
Opinião de Ovídio Costa,
Cardiologista

A medicina encontra-se hoje numa fase de transformação acentuada, impulsionada pelo progresso da ciência e pelo surgimento de novas tecnologias da saúde. O desenvolvimento de sistemas de aprendizagem automática e de processamento de grandes volumes de dados clínicos tem vindo a transformar a prática médica contemporânea. A inteligência artificial identifica padrões e correlaciona grandes volumes de dados, sendo útil na gestão clínica, diagnóstico por imagem, monitorização remota, apoio ao diagnóstico, simulação e ensino médico. O enorme potencial da inteligência artificial levanta dúvidas sobre se transformará no futuro o setor da saúde ou se atuará apenas como suporte aos profissionais. Apesar dos avanços, o contexto individual do paciente, no que se refere às suas necessidades e expectativas específicas, assim como a importância dos sinais clínicos que escapam à digitalização, continuam a exigir o discernimento e a sensibilidade própria do ser humano, neste caso o profissional de saúde. A responsabilidade médica permanecerá também um pilar essencial neste contexto: a integração da IA na prática clínica deve orientar-se por uma perspetiva ética que valorize a personalidade do doente.

Não é fácil criar simpatia ou empatia entre o doente e o computador. É fundamental valorizar as condições que favorecem a comunicação clínica e promovem a confiança entre o doente e o médico. A digitalização dos procedimentos e a emissão de receitas eletrônicas já dificultam a interação e reduzem o tempo disponível para consulta. Sem a presença do profissional de saúde criar empatia entre o doente e os sistemas periciais será ainda muito mais difícil. As respostas a inquéritos clínicos, por exemplo, exigem, por vezes, a confirmação individualizada da informação para garantir maior precisão e oportunidade.
Em síntese, a inteligência artificial representa uma poderosa ferramenta capaz de ampliar a eficácia e o alcance do médico moderno. No entanto, carece de empatia, não capta o contexto humano da doença e, pelo menos a curto prazo, não substituirá o juizo clínico. Resta-nos esperar que as mudanças que se avizinham não sejam uma vez mais pretexto para a deterioração da qualidade dos serviços médicos, pervertendo os objetivos e atribuído culpas ao progresso e às exigências da modernidade. Não devemos desperdiçar esta nova oportunidade de evoluir melhorando a saúde e o bem estar da nossa população.
Nota: as imagens foram criadas com ajuda do ChatGPT AI 4.0