Histórico “apagão” deixou Península Ibérica sem energia
O histórico Apagão da passada segunda-feira, 28 de abril, foi um momento inesperado, intenso no capítulo da ansiedade, mas revelador de maturidade cívica dos maiatos. Todos nós devemos ter memórias e histórias para contar. O Jornal da Maia também viveu o dia no coletivo e conta como foi.
11.30 Hora do Apagão
Cerca das 11:30 da manhã, os sistemas de baterias da redação do Jornal da Maia dispararam em simultâneo para uma pouco usual, mas já experienciada, falta de energia.
Julgando tratar-se de uma falha de curta duração, normalmente devido a pequenas avarias locais que rapidamente são retomadas, continuamos a trabalhar ao som do pausado apitar das baterias.
Ao mesmo tempo que as baterias vão drenando, o apito começa a ser mais rápido até que passa a um silvo continuo sinal de que a carga está no fim, dando tempo para calmamente desligarmos os nossos equipamentos e assim salvarmos o nosso trabalho.
Sabemos que os sistemas atuais de distribuição de energia passam por uma gestão semi-automática, em rede, a chamada “manobra”, que consiste em isolar o posto em avaria e abastecer os consumidores a partir de outros postos vizinhos. Normalmente a “manobra” demora segundos ou mesmo poucos minutos, não obrigando à intervenção imediata de um piquete.
Cerca das 12 horas, já com o nosso servidor a suplicar pelas últimas energias das baterias, o assunto pareceu-nos anormal, mais sério, despoletando a curiosidade jornalística, pelo que, graças à nossa lista de contactos, chegamos à fala com um dos responsáveis técnicos da “EDP” a nível nacional. Uma fonte seguríssima, a quem recorremos há mais de 20 anos, que àquela altura seria talvez uma das poucas pessoas mais bem informadas do país.
Ainda tudo muito fresco, já com os primeiros OCS´s a darem alguma informação, o MaiaHoje avançou a nível nacional com o que sabia e fê-lo exemplarmente através dos meios de que dispunha, a saber, as redes sociais, aproveitando as explicações que nos foram prestadas para apelar à calma, o que foi seguido exemplarmente pela grande maioria da população.
Às primeiras horas da tarde, sem comunicações do operador de internet e sem telefones, ficamos reduzidos à nossa dependência tecnológica e assim impedidos de noticiar. Sentimos a falta de uma rádio de informação verdadeiramente local, que já tivemos, que pudesse orientar a população.
Tranquilos, sem pânico, esperar e passar o tempo.
Passamos a ser meros cidadãos, também nós dependentes das notícias que tanto recebíamos via rádio, como através do nosso “scanner” rádio que nos dava acesso às antigas bandas analógicas de emergência e que, nesta hora em que o digital falhava, muito jeito fez às forças de emergência e proteção civil.
Impossibilitados de ir para casa, de jogar CS ou PS na sua residência, os mais jovens estagiários “quase a cortar os pulsos” pela falta de internet que alimentava o vício dos telemóveis, perguntavam como nos conseguíamos divertir antigamente, ou melhor, como antigamente nos conseguíamos encontrar e combinar coisas sem telemóveis. A pequena palestra de memórias, virou assunto prático quando uns clipes usados para juntar folhas de papel, entraram em cena para o jogo da “moedinha”, um passatempo muito comum nos idos do século passado. As cartas foram o passo seguinte e acabou numa valente sessão de Poker com oito participantes, a feijões, claro, sessão estrategicamente deslocalizada para o nosso estúdio de vídeo, ficando a Nina (a nossa canídea) de serviço de guarda à deserta redação e aos biscoitos que a todos foi cravando.
Com o horário de saída a ser ultrapassado, ninguém queria abandonar a improvisada mesa de jogo «para quê ir para casa? Olhar para as paredes?». Alguns como este escriba, numa tarde “desinspirada”, tiveram de recorrer a novos “empréstimos” da banca, face à onda vitoriosa dos estagiários transformados em verdadeiros capitalistas das fichas de jogo.
O nosso “rádio scanner” continuava a debitar algumas comunicações, nada de extraordinário, excetuando o facto de, tanto a “Voz da América” como a emissora nacional Holandesa, estarem a transmitir qualquer coisa que parecia “Mandarim ou Chinês”. Se teóricos da conspiração fossemos, diríamos que os chineses estavam a tomar conta disto tudo. Felizmente não, erro de frequência ou algo do género.
Chegou a luz
Unanimemente, o passo seguinte foi para rumarmos às nossas habitações para um jantar ainda à luz do fantástico dia quente que vivíamos. Assim foi. Às 19 horas grande parte dos portugueses já deviam estar com os pés debaixo da mesa, divididos entre a escolha do que tinha de ser consumido do frigorífico e a tradicional sandes, de tudo deve ter passado pelas mesas nacionais.
Aproveitando para alguma manutenção e limpeza das máquinas, fomos ficando para mais tarde e cerca das 20 horas ainda o astro rei a fazer-se sentir, mas preparados para um jantar romântico à luz das velas, veio a energia e com ela umas programadas sandes porque isto de estarmos parados, cansa.
Lições que tiramos
Antes de mais, a importância de uma palavra: redundância. Esta palavra significa termos sempre uma alternativa para quando algo falha, ou mesmo um “plano b” que, embora de outra forma, nos garanta o mesmo objetivo da ideia inicial.
Assim, começamos pelo essencial: a sobrevivência Humana. Falamos de água potável, alimentos e meios para os confecionar, medicamentos e afins. Seguidamente, parece-nos importante manter as baterias carregadas, manter um telefone fixo não VOIP (têm energia independente), velas, fósforos, formas de aquecimento como lenha e um rádio de pilhas com banda AM de forma a acompanhar as indicações das entidades oficiais.
Agora se nos permitem, de uma forma mais descontraída, o meu método de abastecimento é transmontano. Alheiras, Chouriços, Presuntos, Salpicões, Linguiças, Butelo, Bucho, Chouriço azedo, um bom stock de vinhos tintos e aquela broa que dura uma semana.