“Era Outubro, despertei”
Há mortes que nos obrigam a parar. A olhar para trás e para dentro. A repensar o país que fomos, o que somos e o que queremos ser.
A morte de Francisco Pinto Balsemão não é apenas o fim de uma longa vida. É o fechar de um capítulo essencial da nossa história coletiva.
Figura maior da liberdade, da democracia e da imprensa, Balsemão foi — e continuará a ser — uma referência moral e intelectual de um tempo em que a palavra tinha peso e a ética era bússola.
Costumava dizer, com ironia e lucidez, “Se um dia eu morrer”, nunca “No dia em que eu morrer”. Como se a própria morte lhe devesse um pedido de autorização. E talvez devesse mesmo. Porque a sua obra, a sua presença, a sua voz no debate público e o seu legado de serviço ao país, tornaram-no imortal.
A minha paixão pela política e a minha simpatia pelos valores da Social Democracia levaram-me a estudar a sua vida e obra.
O meu gosto pela comunicação e as minhas breves incursões pela imprensa fizeram-me mergulhar na sua Lei da Imprensa — ainda hoje um marco de liberdade responsável.
Francisco Pinto Balsemão é sinónimo de luta, de liberdade, de Democracia , de dedicação e de trabalho.
No dia em que a Democracia morrer, Balsemão morrerá.
No dia em que a liberdade de imprensa for silenciada, Balsemão morrerá.
No dia em que os extremismos vencerem e o diálogo deixar de ser possível, Balsemão morrerá.
Ironicamente, no mesmo Outubro em que a sua SIC “despertava”, como diz o seu hino, o próprio Balsemão adormecia para sempre. Mas a sua obra continuará desperta, viva, inquieta — como ele sempre foi.
E como se o destino quisesse testar a nossa resistência, esta foi também a semana em que partiu o Juiz Conselheiro e ex-ministro Laborinho Lúcio.
Muito mais do que um jurista brilhante ou um político de exceção, Laborinho foi um humanista convicto. Um homem que acreditava que o Direito só cumpre a sua função quando serve as pessoas — sobretudo as mais vulneráveis. Fundador da APAV, pensador da justiça e da cidadania, deixou-nos um exemplo de integridade e compromisso cívico raro.
Foi, de facto, a semana em que “a morte saiu à rua”.
Mas também a semana em que a memória nos recordou que há vidas que nunca se extinguem — porque continuam a ensinar-nos o que significa ser digno, livre e humano.
Pedro Miguel Carvalho
Empresário, júri, blogger e podcaster no sector vinicola.
Foi vice-presidente da JSD da Maia e conselheiro distrital da JSD e do PSD.
Deputado na AM Maia pelo PSD/CDS.
Membro do “Milheirós Fest” e de coletividades maiatas.


