Carlos Ramalhão: «É fundamental o papel do BE na defesa dos direitos e das conquistas de Abril e das nossas liberdades individuais e coletivas»
O Parque de Avioso foi o cenário escolhido pelo candidato Carlos Ramalhão, do Bloco de Esquerda, que se define como um cidadão «normal», mas um criativo. Filho de um combatente anti-fascista é alguém que «ama a Maia» e que só lhe faltou «nascer na Maia», diz a brincar, do concelho onde cresceu. Habitação, Saúde, acessibilidades, transportes, educação, ambiente e bem-estar animal, são algumas das preocupações do candidato para quem «a Habitação pública deve existir, é urgente, mas deve ser integrada nas comunidades e não criados guetos». Na Maia há «algumas pessoas tentam impor uma ditadura de medo, em que a verdade parece ter ganho um outro significado», diz.
Maia Hoje (MH): Quem é o cidadão Carlos Ramalhão?
Carlos Ramalhão (CR): Sou um cidadão normal, uma pessoa que tem os seus hábitos, as suas preferências, os seus ideais, sou um criativo, isso é logo o que eu apresento à partida.
Sou ligado às artes, à cultura, à escrita, ao jornalismo enquanto formação, ao cinema, ao teatro e à música. Por outro lado, falando dos ideais, sou alguém que tem um orgulho imenso na minha herança. Tenho muito orgulho em ser filho de uma pessoa que combateu o fascismo, que lutou pela liberdade à sua maneira, como muita gente fez, e herdei esses ideais, acredito muito na liberdade.
Acredito que estamos a passar por uma fase muito difícil. O mundo, o país, e claro está, a própria Maia, em que algumas pessoas tentam impor uma ditadura de medo, em que a verdade parece ter ganho um outro significado, como se isso fosse possível. Sou alguém que acredita que nós ainda podemos fazer alguma coisa contra essa tendência, e depois sou alguém que ama a sua terra.
Eu costumo dizer, um pouco na brincadeira, que só me faltou nascer na Maia, porque efetivamente nasci em Inglaterra, onde os meus pais eram emigrantes, e que respeito que eu tenho pelos emigrantes, sejam eles com E ou com I, mas depois vim crescer à Maia e vivi na Maia a grande parte da minha vida. Andei nas escolas em Moreira, no centro da Maia, no Castêlo da Maia, cresci nesta terra e tenho muito orgulho nisso, e lá está, quero humildemente contribuir para o desenvolvimento deste concelho.
MH: O vosso lema é “Pela Qualidade de Vida”. De que maneira pretendem aumentar a qualidade de vida dos maiatos?
CR: De muitas maneiras. Antes de mais nada, eu gostaria de focar que a Maia mudou, há muitas pessoas que vivem na Maia e que não são maiatas. Falamos não só para os maiatos, para as maiatas, mas também para os habitantes da Maia, pessoas que vieram para o nosso concelho e que nós acolhemos, pessoas que muitas delas, felizmente para elas, conseguiram habitação neste concelho, o que não é fácil.
Nós resumimos nessa frase, nesse lema, as nossas propostas porque todas elas visam aumentar realmente a qualidade de vida das pessoas que habitam no concelho da Maia. Aqui está uma questão muito importante e que nós lembramos frequentemente e não é por acaso que estamos no Parque de Avioso e não em qualquer sítio do centro da Maia.
Nós temos uma candidatura para o centro da Maia também, claro, mas não só, nós temos uma candidatura para o concelho da Maia e temos muitas propostas em diversos temas para melhorar essa qualidade de vida, nomeadamente através, como não podia deixar de ser, da habitação. Nós queremos ver criadas áreas como casas de apoio a necessidades como falta de habitação, que possam até temporariamente servir pessoas que estão à espera de uma habitação permanente, que nunca é demais lembrar, é um direito fundamental, e que também podem servir situações de desalojamento temporário, de catástrofe natural, eventualmente.
Essa é uma das nossas propostas para a habitação, sendo que nós pomos muita ênfase no cooperativismo e no papel histórico que as cooperativas tiveram e têm no concelho da Maia.
Temos propostas para a saúde, nós queremos ver consultas de psicologia e de medicina dentária nos centros de saúde do concelho da Maia.
Queremos melhorar as acessibilidades, nomeadamente permitir às pessoas com deficiência que possam deslocar-se dentro do concelho sem a preocupação de cair num buraco. A questão dos passeios pedonais, mesmo na própria cidade da Maia, eles existem, vão existindo, estão em péssimo estado. Nós temos na nossa lista um cidadão que é cego e que, claro, nos relata frequentemente problemas que tem no centro da Maia, o que dizer do resto do concelho, onde muitas vezes esses passeios pedonais estão ausentes, não existem sequer. Essa questão das acessibilidades preocupa-nos bastante.
A questão dos transportes, nós queremos ver uma cobertura mais eficiente a nível de transportes inter-freguesias, uma questão que foi falada até pelo atual executivo, o eterno executivo camarário PSD/CDS, mas que nós achamos que não está resolvida do todo, não existem ligações eficazes entre freguesias como Moreira e Folgosa ou Castelo da Maia e Águas Santas. Achamos que tem que haver um reforço dessas ligações e depois existem, claro, outros temas como a Educação. Há uma lacuna grande na disponibilização de serviços educativos para crianças com três anos, por exemplo, que não são pré, não são do ensino básico, não são da creche, e estão ali um bocado no meio, nós queremos ver esse problema resolvido a nível autárquico.
A nível ambiental, obviamente, que para nós a acção ambiental inclui o bem-estar animal. Sou uma pessoa muito ligada aos direitos dos animais, sou um ativista dos direitos dos animais, sou ativista de muitas causas, neste caso. Falando nisso, em termos ambientais nós queremos ver desenvolvida a questão do Rio Leça, o rio que passa no nosso concelho, e que achamos dever haver maior diálogo entre os municípios por onde o rio passa. Deve haver maior intervenção no que diz respeito às descargas poluentes, há uma função que é a função dos guarda-rios que nos parece que não está a ser devidamente aproveitada. E, claro, sendo eu também um homem da cultura, queremos, acima de tudo, porque nem tudo é mau, e nós, sendo bloco de esquerda, naturalmente estamos distantes das ideias, da maior parte das ideias defendidas pela maioria que exerce neste momento o seu mandato, mas nem tudo é mau e têm sido feitas coisas interessantes.
Mas aquilo que nós queremos é ver mais cultura espalhada pelo concelho. É verdade que existe a Quinta da Caverneira, que está a ser gerida pelo Teatro de Imagem, e bem. É verdade que há um ou outro evento que viaja da área urbana da Maia para outras partes do Concelho, normalmente para partes também elas com uma componente urbana, e nós gostaríamos de ver a parte rural que existe e deve ser respeitada do nosso concelho.
Desenvolver essas áreas não significa construir à toa, e muito menos condomínios de luxo, edifícios com rendas altíssimas e preços altíssimos, como é a nossa realidade, infelizmente, na Maia.
Gostaríamos de ver essa cultura mais respeitada e o maior intercâmbio entre associações, instituições culturais que existem por todo o concelho. Gostaríamos de as ver mais ativas e com mais intervenção, e penso que a Câmara pode e deve fazer mais nesse campo. Por outro lado, nós temos uma proposta de criação de uma espécie de campus que possa receber residências artísticas, porque nós achamos que na Maia, acima de tudo, e estou a referir-me à autarquia, trazem-se artistas de fora, mostra-se coisas, mas não há um incentivo verdadeiro à criação, e penso que a criação de um espaço desses, muito a exemplo do que existe no Porto, com o campus Paulo Cunha e Silva, que é, quanto a mim, um caso positivo, um espaço de residência que até se poderia estender a outras artes que, por exemplo, no caso do campus Paulo Cunha e Silva, não estão presentes, porque é mais dedicado às artes performativas, mas, por exemplo, mesmo à música, às artes plásticas, criação de um espaço municipal que motivasse essa criação.
MH: Falou-nos, agora, na habitação, eu queria entrar aqui em detalhe em dois pontos, que era na criação de habitação sem criação de guetos e a importância do cooperativismo e a sua história. Pode entrar um bocadinho mais em profundidade sobre estes temas?
CR: Claro que sim. Nós sabemos que, durante muitos anos, a política de habitação pública foi muito direcionada para a criação dos chamados bairros sociais.
Temos o exemplo, no centro da Maia, temos o exemplo do bairro do Sobreiro, e nós defendemos que essa habitação pública deve existir, tem de existir, é urgente, mas deve ser integrada nas diversas comunidades e não serem criados esses guetos, essas zonas de habitação social, mas sim serem construídas ou recuperadas, porque nós também defendemos que existe património público que pode e deve ser utilizado para esse fim, e serem espalhadas por todo o concelho, o concelho da Maia ainda é vasto, e, dessa forma, contribuir para uma maior multiculturalidade em zonas fora da área urbana, mas também contribuir decisivamente para a integração dessas pessoas e não haver essa discriminação de, ali naquele ponto, ali naquele bairro, vivem pessoas que ganham menos, ou pessoas com menos rendimentos e haver ali um distanciamento, e é isso que nós queremos dizer.
Quanto ao cooperativismo, trata-se de um reconhecimento que nós consideramos justíssimo, a Maia tem uma história de cooperativas de habitação muito grande e, num tempo em que é urgente resolver a questão da habitação, nós pensamos que, por exemplo, com a criação de um gabinete de assistências cooperativas, um gabinete municipal de assistências cooperativas, podemos estar a dar um passo bastante grande para ajudar a acomodar esta deficiência que é, hoje em dia, não apenas da classe dita operária, das classes baixas, mas também das classes médias, pessoas que têm emprego, mas que mesmo assim não conseguem, não conseguem casa, e isso acontece já no nosso concelho.
MH: O Bloco de Esquerda já é um dos partidos com a representação na Assembleia Municipal, mas que ainda não tem voz no Executivo. Ao terem vereadores, quais seriam as primeiras prioridades?
CR: Bem, eu penso que o tema que eu acabei de referir, da habitação, ou do que acabámos de falar, teria de ser, obrigatoriamente, a prioridade das prioridades. Nós estamos a lidar com questões seríssimas de falta de habitação e eu penso que o meu papel, caso eu esteja eleito variador, terá de ser, por aí, antes de mais nada. Aquilo que eu referi das casas de apoio, penso que seria uma medida imediata a ser tomada, porque a construção de casas, a recuperação de casas, a preços que possam ser pagos, é urgente e é uma boa medida, mas estamos a falar do médio e do longo prazo.
MH: Pergunto-lhe o que é que seria um resultado positivo para o Bloco de Esquerda nestas autárquicas?
Um resultado positivo para o Bloco de Esquerda nestas autárquicas seria, naturalmente, a eleição de, pelo menos, um vereador, porque, como disse, e é verdade, não podemos fugir a isso, o Bloco tem lutado pela presença na Câmara Municipal, mas não tem conseguido eleger, e naturalmente, a manutenção da nossa presença na Assembleia Municipal, que é fundamental.
Preocupa-nos o avanço, o possível avanço, avanço a nível legislativo, as eleições legislativas, a nível parlamentar e possível avanço nestas autárquicas de forças xenófobas, racistas, homofóbicas, e naturalmente que será uma vitória conseguir impedir que essas forças tenham lugar num próximo executivo. Mas, a nossa prioridade é aquilo que tem a ver connosco, com as nossas propostas e achamos que é fundamental, mais do que nunca, consideramos que é fundamental o papel do Bloco de Esquerda na defesa dos direitos e das conquistas de Abril e das nossas liberdades individuais e coletivas e, portanto, sim, a nossa presença nos órgãos autárquicos é o nosso objetivo.