Augusto Simões – o filho da terra

Augusto Simões – o filho da terra

De nome Augusto Simão Ferreira da Silva, nasceu a 6 de Abril de 1881, no lugar de Pedrouços, aí faleceu a 30 de Setembro de 1948, na sua casa de lavoura, onde hoje funciona a Junta de Freguesia. Casou com Rita S. Barros, natural de Paranhos, mas enviuvou ainda bastante novo, não resultando descendência desse curto matrimónio.

Era filho de António Simão Ferreira da Silva e Rosa da Silva Neves, na época abastados lavradores. Era neto paterno de Manuel Simão Ferreira da Silva, que também chegou a exercer a função de Presidente da Câmara Municipal da Maia em 1843. Álvaro do Céu Oliveira, no Temas Maiatos nº 6 relacionado com a Maia e as Lutas Liberais, refere que o seu nome aparece como secretário da Comissão encarregue dos Autos de Liquidação de Perdas, criada por decreto a 31-8-1833 para indeminizações a atribuir pela passagem dos exércitos miguelistas. O testamento deste seu antepassado consta do Arquivo Municipal da Maia, no livro 29, de 1863, com data de 3-4-1860. A semente liberal ficou no sangue de Augusto Simões, pois como bom “malhado”, fez parte da Comissão Executiva das Comemorações em 1932, que passaram pela Praia da Memória e Pedras Rubras, onde efectuou um emocionado discurso.

Facto curioso é o seu nome ser referido numa informação do Hospital de Sto. António, onde se encontrava internado João Pereira Ribeiro desde 4-2-1914, de 30 anos, solteiro, moço de lavoura, residente em Pedrouços e que «o seu internamento em nada o beneficia, prejudicando outros doentes, pelo que se pedia ao seu fiador, Augusto Simões, residente na rua de Águas Santas nº114, que venha buscar o doente». Mais se referia a Augusto Simões que «parece querer isentar-se visto que vem sendo avisado, por meio de bilhete-postal, nos dias 21 e 25 do mês passado, ainda até esta data não honrou o compromisso nem a tais bilhetes respondeu», conforme carta de 1-6-1915.

Ao longo da sua vida pública, Augusto Simões exerceu vários cargos públicos. O seu nome já se encontra na Relação dos cidadãos e eleitores a quem se refere o art.51 do Código Eleitoral, para o Concelho da Maia, do ano de 1916, como vereador substituto, conforme documento passado pelo Administrador, o Dr. António Martins. Desde 2-1-1915 até 16-4-1923 foi vice-presidente do Senado Municipal. Este era o órgão deliberativo que cada um dos municípios detinha, ao abrigo da organização administrativa em vigor entre 1913 e 1936, constituído por vereadores eleitos diretamente pelos eleitores recenseados no respetivo município. Por sua vez, o Senado elegia, de entre os seus próprios membros, uma comissão executiva na qual eram delegadas as funções executivas municipais.

Voltando a Augusto Simões, foi Vice-presidente da Comissão Executiva a 2-1-1926 a 1-1-1941 no longo mandato do Dr. António dos Santos, passando a exercer o cargo de Presidente da Câmara Municipal da Maia até 6-12-1944. Nos últimos meses quem fez a transição de mandato foi Alberto Campos da Costa Maia.

O testamento de Augusto Simões foi efectuado a 19-3-1940, tendo como único herdeiro a instituição Câmara Municipal da Maia. O legado de Augusto Simões demorou anos a ser resolvido, acabando por ser parcialmente cumprido. O benemérito, conforme nos refere Manuel Correia no boletim informativo da Junta de Freguesia de Águas Santas, nº17, de 1997, «legou todos os seus bens à C.M. Maia, instituindo-se assim, o legado Augusto Simões, com obrigação de se construir um Asilo-Escola, destinado a crianças pobres e filhos de cultivadores do concelho da Maia, a quem seria ministrado o ensino adequado para fazer deles bons operários agrícolas. Tendo sempre em atenção, o alto interesse das classes agrícolas». E também não se esqueceu da sua freguesia, deixando 40 contos de réis, com a finalidade de todos os anos, pelo Natal, distribuir o seu rendimento por doze pobres da freguesia. A título de curiosidade, diga-se ainda, que «o campo de jogos do Pedrouços Atlético Clube, era até há bem pouco, referido na imprensa como campo Augusto Simões, e os seus jogadores, por vezes nos relatos eram referenciados, como os homens de Augusto Simões. Achamos que o agora renovado parque de jogos deveria voltar a ter a mesma denominação: Campo Augusto Simões».

Infelizmente, a pretensão de Manuel Correia não surtiu efeito. Passaram 26 anos e o campo não voltou a ter o nome do filho da terra.

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