A Sra. Ana Sebanda (1906-1990)- Uma das últimas “Pinheireiras” da Maia

A Sra. Ana Sebanda (1906-1990)- Uma das últimas “Pinheireiras” da Maia

A Sra. Ana foi uma personagem inesquecível da Rua do Sol.

Personalidade forte, popular, guerreira, usava linguagem ora truculenta ora afável, com palavrões que serviam para avisar, acalmar ou seduzir, raramente para insultar.

Tal como a maior parte das mulheres da sua época, Ana teve que se desdobrar em múltiplas actividades para garantir a sobrevivência económica.

Apesar das dificuldades construiu uma boa casa na Rua do Sol na companhia do marido, Sr. Agostinho, um pedreiro simpático sempre de sorriso aberto.

Ana foi florista, vendia no cruzamento do Carvalhido e noutros locais do Porto, também entregava as flores na casa de muitos clientes certos.

Ao Bolhão levava novidades fresquinhas das hortas Maiatas para vender por grosso às vendedeiras.

Em casa tinha um enorme forno onde fazia grandes broas de milho que vendia na vizinhança e que duravam a semana inteira, na Páscoa preparava broinhas doces onde se evidenciavam os traços alaranjados do açafrão e o agradável cheiro das couves tostadas, colocadas por baixo de cada uma das broinhas.

Mas destacou-se sobretudo como “Pinheireira”, profissão extinta durante a década de 60 do século passado, eximiamente praticada também por outras mulheres destemidas do Outeiro e da Pinta.

Ilustração de José ML Barbosa

A Sra. Ana Sebanda andava pelas bouças do Gramaxo, do Maia Pilrão, nas Cruzes do Monte e outros locais, onde subia com ligeireza aos pinheiros bravos e com ajuda de uma vara com gancho na ponta, atirava as pinhas ao chão, cá em baixo eram metidas em grandes sacos de sarapilheira por alguém que a ajudava, normalmente jovens da rua do Sol e as suas sobrinhas. Por vezes, sem autorização era surpreendida pelo guarda da bouça ou pelo proprietário, sem se perturbar conseguia sempre ultrapassar a situação com boa disposição e algum charme à mistura.

Em casa, as pinhas eram estendidas no quintal, no pátio e no passeio da rua, para secarem expostas ao sol até abrirem, então batiam-se as pinhas para soltar todas as sementes.

As valiosas sementes (“penisco”) eram vendidas nas Casas de Sementes do Porto, a maior parte destinadas a exportação. As pinhas vazias da semente eram vendidas porta a porta na Cidade para acender o fogão e a lareira.

Ana, esperta, despachada e com mais conhecimentos, também comercializava as pinhas com a semente apanhadas pelas pinheireiras da Pinta e Outeiro.

Escrito por Fernando Teixeira

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