A Padroeira do Concelho da Maia
Foi concretizada uma “velha” aspiração de José Vieira de Carvalho, a coroação de Nossa Senhora do Bom Despacho como a Padroeira da Maia. Na cerimónia, presidida pelo Bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho, teve como ponto alto, na igreja matriz, a entrega da coroa em ouro, com mais de dois quilos de ouro, cravejada com muitas pérolas, esmeraldas e safiras, uma oferta da Câmara Municipal da Maia. A tradicional procissão reuniu muitos milhares de fiéis, uma das maiores expressões de público durante um desfile do tipo.
Depois da cerimónia da coroação de Nossa Senhora do Bom Despacho como Padroeira da Maia, durante a missa celebrada pela manhã de domingo, na igreja matriz, a procissão, ao fim da tarde, fez afluir às ruas muitos milhares de pessoas. Aquando da passagem pela entrada principal da Câmara Municipal, o presidente da Edilidade, leu a proposta de voto de congratulação e de regozijo pela Coroação e pela proclamação de padroeira, que foi aprovada por unanimidade em reunião do Executivo, no dia 7 de Julho. Bragança Fernandes leu a ata da proposta que refere que um dos grandes impulsionadores recentes destas Festas, «senão o seu maior crente e defensor, já não se encontra entre nós, tendo sido chamado para junto de Deus, após ter dedicado toda a sua vida ao serviço dos seus conterrâneos. O Doutor José Vieira de Carvalho, católico praticante e profundo crente e conhecedor da vontade e das tradições das Gentes da Maia, sempre procurou enaltecer e enriquecer a importância do culto a Nossa Senhora do Bom Despacho, manifestando um sonho que, infelizmente, já não o pôde ver em vida».
O ancestral culto e devoção à Nossa Senhora do Bom Despacho, que remonta a meados do Séc. XVII, é um importante elemento do rico património cultural das gentes da Maia, constituindo-se como uma peça importante da nossa memória colectiva. Mais tarde, o culto a Nossa Senhora do Bom Despacho ganhou forma e passou a abranger a vinda de peregrinos de toda a Região Norte do País, que em sua honra vinham agradecer as graças concedidas ou invocar a sua protecção, nomeadamente, no que às comunidades piscatórias dizia respeito. Ainda hoje, cerca de quatro séculos volvidos desde aquela data, o culto a Nossa Senhora do Bom Despacho atrai milhares e milhares de peregrinos, «em busca da felicidade e do apoio que necessitam para o seu dia a dia».
A Câmara Municipal da Maia, desde muito cedo, reconheceu a importância e o significado do culto a Nossa Senhora do Bom Despacho, como imaginário religioso e cultural da grande família maiata. No entanto, este sonho foi igualmente partilhado pelo Reverendo Padre Domingos Jorge e pela Comissão de Fábrica da Paróquia da Maia, que se empenharam nesta tarefa de contribuir para o engrandecimento das nossas raízes culturais e religiosas. A esta oferta da Câmara Municipal e de todos os maiatos a Nossa Senhora do Bom Despacho, apenas um limite se impunha: «que esta peça de ourivesaria fosse tão bela, que pudesse resplandecer toda a sua grandiosidade na nossa querida e bela imagem da Nossa Senhora do Bom Despacho. Assim se fazendo, assim se cumpriria o sonho daquele que nos antecedeu e que mais contribuiu para que este dia fosse possível».
Para a Câmara Municipal, esta coroação e proclamação representa um «grande orgulho que podemos ver assim o sonho trans -formado em realidade, cumprindo-se a vontade de um Homem e de um Povo há muito desejada». Bragança Fernandes frisou ainda que este «Era o desejo da população maiata. É uma santa procurada por muita gente até de fora do concelho. As pessoas crêem muito na santa. Foi muito bom para as pessoas católicas maiatas.
A coroa, da autoria de Manuel Alcino, conceituado joalheiro do Porto, pesa dois quilos e 700 gramas de ouro, cravejada com muitas pérolas, esmeraldas e safiras. A valiosa peça está avalia -da em 125 mil euros, e por segurança, ficará guardada numa instituição bancária.
A exemplo dos anos anteriores, o desfile religioso saiu da igreja de nossa Senhora do Bom Despacho, depois de estar parada mais de trinta minutos na Praça José Vieira de Carvalho. Participaram na procissão as 18 paróquias do concelho, todas com os andores alusivos à sua freguesia e ao seu padroeiro.
Jornal Maia Hoje, edição nº86 de 2003