A Mulher da Maia

A Mulher da Maia

No dia 8 de março, decorreu na sede do Clube Unesco da Maia (CUMA), homenagem às mulheres da Maia, celebrando o Dia Internacional da Mulher junto dos seus associados e convidados. O evento que se realizou na sua sede à Urbanização do Chantre, teve início pelas 15 horas e teve como oradores os professores Adília Fernandes e Paulo Melo.

O Dia Internacional da Mulher recorda as conquistas das mulheres que, ao longo da história, lutaram pelos seus direitos e contra os preconceitos.

A Mulher da Maia foi a principal temática nesta homenagem, realizada juntamente com vários associados, professores, engenheiros e representantes. É feita uma breve apresentação ao livro A mulher da Maia – da Maia à urbe portuense, contando a história de vários ofícios que existiam. Neste evento, abordaram vários temas, ao falar da Maia e das suas gentes à época de hoje, destacou-se os grandes feitos das mulheres, começando pelas mulheres que faziam viagens longas, desde as terras da Maia até ao Porto, muitas vezes descalças para poupar a sola dos sapatos.

A maioria da população era analfabeta e enquanto elas recordam os tempos que viviam, concluíam que de facto, a «Mulher da Maia é um elemento especial, dentro do contexto social de mulheres a nível geral, a Maia tinha mulheres especiais» disse Lurdes Graça, idealista e responsável deste evento.
«São mulheres versáteis, polivalentes e laboriosas, aquele que o livro trata, as mulheres tinham um papel fundamental em casa, capazes de tomar conta das suas casas e dos filhos, e ainda contribuir economicamente para o lar na ausência do marido», referiu.

Adília Fernandes, professora doutorada em História pela Universidade do Minho, investigadora do CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória – Universidade do Porto) e do IHC (Instituto de História Contemporânea – Universidade Nova de Lisboa), dedicou a sua intervenção «à grande historiadora das Mulheres, a escritora Fina d’Armada» e abordou a temática da situação social da mulher em vários pontos do mundo, em especial a violência contra as mulheres e a exploração das mesmas «o Dia Internacional da Mulher simboliza a luta das mulheres pelos direitos fundamentais», disse e acrescentou «de acordo com a ONU, cerca de dois milhões e meio de pessoas são vendidas em cada ano, e destas, 80% são mulheres, usadas para tráfico sexual», referiu Adília.

Para a investigadora «as mulheres no mundo da tecnologia, da globalização, das economias fortes, da supervisão de procedimentos entre países são a negação do sentido da humanidade dada a continuidade da sua exclusão. Também, são as guerras atuais que nos colocam perante horrores semelhante ao Holocausto e o mundo assiste e permite», terminou a sua alocução.

Laura Mora, membro da direção do CUMA, abordou os relatos do «“Culto Mariano” da Póvoa de Varzim a Laúndos», do antropólogo e associado Pedro Pereira, que relata vários casos de Crentes e Milagres que o próprio observou.

As lavadeiras, as leiteiras e as pinheireiras, profissões mais comuns, tinham muita importância, na época, estas mulheres lavavam as roupas das senhoras da cidade em diversos sítios, o trabalho era de facto exigente e forçoso, «O feminino de lavadora na minha terra é lavadeiras», destacou Adriano Carvalho, presidente da direção do clube, antes de dar a palavra a novo orador.

“A Casa de Moreira”, livro da casa da avó de Paulo Melo, professor licenciado em História, recebeu também um grande destaque neste dia tão especial «sempre fui um divulgador e um leitor daquilo que os historiadores escreviam», disse o orador.

Dona Sílvia Teixeira, a avó, é homenageada durante toda a sua intervenção, exibiu uma fotografia da sua família na Casa de Moreira «esta casa foi construída com o dinheiro ganho pelo meu bisavô no Brasil. Ele construiu a casa, mas foi sempre muito ausente da vida e da família, isto era a condição de muitas mulheres emigrantes para o Brasil que aqui ficaram a tratar da família enquanto os homens ganhavam a vida lá», descreveu, acrescentando que o avô esteve sempre muito ausente «quem assumiu o governo da casa e a educação das filhas foi a minha bisavó Carolina que eu ainda conheci em criança em 1960, eu tenho várias imagens dela naquela casa», destacou Paulo Melo na apresentação.

«Porque ela, de facto, se distinguiu enquanto mulher de Vermoim e mulher da Maia, naturalmente tenho recordações. Era uma mulher austera, determinada, talvez até um pouco rígida nas relações que mantinha com os netos no quotidiano da casa», diz sobre a sua avó, Sílvia da Costa Teixeira enquanto proferia emocionantes lembranças da sua família. «Oxalá que virtudes da Santa Dona Sílvia sejam ditadas por todos os filmes desta terra pois seria talvez uma homenagem que lhe podiam prestar mais do agrado do seu coração», afirmou o senhor Mário Silva, também ele, um conhecido maiato com longa história familiar.

Cristina Cigre fez uma interpretação e uma leitura de várias poesias de ilustres escritoras portuguesas, como Sophia de Mello Breyner, Florbela Espanca, Natália Correia, Maria Teresa Horta, Augustina Bessa Luís, Lídia Jorge e Marília Lopes acompanhada ao piano por Vasco Venade, sendo a mulher o principal tema «acredito que as mulheres da Maia tenham tido também acesso a uma cultura que no interior podia ser bem mais difícil. O litoral dá-nos sempre mais acesso a uma sociedade que está a beneficiar da indústria, do comércio, de vários estratos sociais que influenciam certamente o pensamento das pessoas», disse Cristina Cigre.

A impulsionadora do evento, professora Lurdes Graça, ao referir a pinheireira, disse que esta «mostrava uma grande grandeza física e, em vez de apanhar as pinhas que se encontravam no chão, escalava as árvores, usava as calças do marido. Era um trabalho duro e feito em equipa».

Raúl da Cunha e Silva, presidente da Assembleia Geral, professor universitário jubilado, acrescenta a importância do Dia Internacional da Mulher, destacando a igualdade de género, o seu passado e todo o percurso que as mulheres tiveram que passar «hoje celebramos o quão longo foi o caminho que tiveram de caminhar para chegar este ponto. Tão longo foi esse caminho! Quando falamos da igualdade de género, estamos a falar de que? Claro que filosoficamente o Homem e a Mulher são iguais, juridicamente também, socialmente iguais, mas há muitas coisas que não são iguais.», disse, fechando assim a sessão, com uma reflexão em aberto, quem sabe para descarnar num próximo encontro.

O evento terminou nunca esquecendo que as pessoas podem inspirar outras a ajudar a criar um mundo inclusivo, procurando a inclusão das mulheres e partilhando conhecimentos.

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