«A CM Maia está a precisar de rejuvenescimento e de um novo ar»
Com apenas 23 anos, Joana Machado apresenta-se como um rosto jovem da política local. Natural de Folgosa, diz conhecer os desafios das freguesias mais periféricas e traz consigo propostas centradas na coesão territorial, na habitação acessível e na melhoria dos serviços públicos. Nesta entrevista, fala-nos da sua visão para o concelho, do papel da CDU nestas eleições e daquilo que considera ser essencial para que a Maia seja um território mais justo, equilibrado e inclusivo.
Maia Hoje (MH): Quem é a cidadã Joana Machado?
Joana Machado (JM): Eu tenho uma história muito parecida com muita gente, com muitos jovens do nosso país e também do nosso concelho. Sou filha de operários e de gente trabalhadora que sempre se esforçou para me poder dar melhores condições de vida. Fui a primeira pessoa da família a ingressar no ensino superior, a terminar uma licenciatura, um mestrado e, nomeadamente, ingressar num doutoramento. Sou uma pessoa que sempre viveu e cresceu em Folgosa, que sentiu na pele os problemas do que é viver numa freguesia periférica e dos problemas que dela advêm, como a falta de transportes, a falta de acesso a serviços e a comércio.
É um bocadinho isso que me traz à política, de querer dar voz às pessoas que não têm voz.
MH: A CDU é uma coligação de dois partidos. Como é que estes dois partidos estão representados nestas eleições?
JM: A CDU é a coligação do Partido Comunista Português e do Partido Ecologista “Os Verdes”. Aqui na Maia, como cabeça de lista, faço parte do Partido Comunista Português (PCP), mas existem vários locais no país e nomeadamente nas listas para os órgãos autárquicos da Maia. E temos candidatos do Partido Ecologista Os Verdes e também candidatos independentes, a CDU também inclui candidatos independentes.
MH: É apenas uma jovem de 23 anos, mas já foi escolhida pelos colegas para fazer parte, e não só, ser cabeça de lista. Qual é a sensação de ser candidata a presidente da Câmara Municipal da Maia?
JM: Ser cabeça de lista veio de uma discussão coletiva, como todas as decisões que são tomadas no nosso partido. É uma lista constituída por muitos jovens, homens, mulheres, trabalhadores com várias experiências de vida, e que ajudam e fazem com que a lista da CDU permita uma representação de todos os tipos de maiatos. Acho que, o facto de eu ser jovem, não é uma desvantagem, é sim uma vantagem.
A Câmara Municipal da Maia está a precisar de rejuvenescimento, de um novo ar e de dar voz aos jovens, aos trabalhadores e às pessoas das freguesias mais periféricas.
MH: Desigualdades entre o centro e as freguesias periféricas é um tema importante para a vossa candidatura. Pode especificar?
JM: Nós achamos que a Maia tem que ser um lugar para todos e isso faz com que não se possa centrar no centro da cidade.
A Maia é um concelho tão grande a nível territorial e, infelizmente, existe uma grande desigualdade entre aquilo que são as freguesias mais periféricas- Folgosa, S. Pedro Fins, Pedrouços- e o centro da cidade, onde se concentram os serviços, o comércio, o próprio acesso ao desporto e à cultura. Nós, habitantes destas freguesias, não podemos ficar esquecidos.
Quando não há um sistema eficaz de transportes públicos, que funcione como um elo de ligação entre estas freguesias e o próprio centro da cidade, faz com que os maiatos destas freguesias fiquem privados do acesso a esses serviços e a esse comércio.
Uma das soluções que a CDU apresenta é reforçar o transporte público com a STCP, como operador interno, na ligação entre as diferentes freguesias e o centro da cidade, nomeadamente, criar mais linhas de autocarros para isso. O que diz respeito ao metro, a própria concretização da ligação da linha entre o Fórum da Maia e o Hospital de São João, também permitiria melhorar esta ligação; a criação da linha circular, que faça a ligação entre a Estação dos Verdes (linha do Aeroporto) e o Fórum da Maia, que permitiria fechar o anel de circulação e melhorar a circulação dentro do próprio concelho.
Outra coisa que não posso deixar de referir e que a CDU sempre defende, tanto a nível autárquico como a nível da Assembleia da República, é o fim das portagens nas ex- Scuts, nas autoestradas que atravessam o nosso concelho (A8, A4 e A41), que, diariamente, prejudica quem vive, quem trabalha, quem estuda no nosso país e até os próprios serviços municipalizados, como é o caso das rotas da Maia Ambiente.
A Maia tem que ser para todos e é isso que a CDU defende.
MH: O custo da habitação também é um problema que identificaram. O que é que a CDU pretende fazer para combater este problema?
JM: A CDU defende que a garantia do acesso à habitação tem que ser algo que é resolvido e é garantido pelo Estado Central, tal como está estatuído na Constituição da República Portuguesa. Contudo, existem aqui questões que as próprias autarquias/ municípios podem intervir, nomeadamente, no que a CDU propõe, que é a criação de uma bolsa de terrenos e edifícios municipais que permitam a construção de habitação pública. Não me refiro apenas à habitação social, mas também à habitação pública. Portugal, infelizmente, é um dos países da União Europeia com menos taxa de habitação pública, mas também de acesso e de apoio à habitação cooperativa e à própria autoconstrução. Isto, obviamente, aliado de apoios públicos, nomeadamente, a nível do projeto, que permitam fomentar estes tipos de modelos de organização.
Isto também poderia criar um efeito moderador nos preços dos terrenos e das casas no nosso concelho, porque, infelizmente, no concelho da Maia, o preço de venda por metro quadrado ainda é superior ao da Área Metropolitana do Porto. Isto traz um grande problema para quem aqui quer viver e vemos isso pelos relatórios da Espaço Municipal, em que o perfil dos candidatos que concorrem à habitação social tem-se vindo a alterar profundamente. Outro dos pontos em que a Câmara Municipal da Maia pode intervir é a questão do direito de preferência na compra de edifícios devolutos ou de interesse público, e a Câmara da Maia só o tem de exercer para podermos conter um bocadinho deste problema aqui no nosso concelho.
MH: Embora já tenha presença na Assembleia Municipal, já há alguns anos que a CDU não elege um vereador. No executivo, qual vai ser a vossa luta?
JM: Além da questão da habitação e da melhoria da coesão territorial dos transportes públicos que já referi, há também a questão da melhoria dos serviços municipalizados.
O importante para a CDU é manter os serviços municipalizados como públicos, mas reverter as externalizações, nomeadamente na Maia Ambiente; aumentar o número de vezes de recolha dos lixos domésticos; acabar com as caixas de posição dos lixos fechadas à chave, que infelizmente tem criado verdadeiras lixeiras a céu aberto e é algo que a CDU já interviu e alertou nas Assembleias de Freguesia; a revisão do sistema Pay-As-You-Throw
(PAYT), implementado no nosso concelho, que está a fazer aumentar a fatura das famílias ao fim do mês e a prejudicar, especialmente, as famílias mais numerosas; temos a questão da própria manutenção do serviço de saneamento, em que os próprios relatórios apresentados pela Câmara Municipal da Maia, nomeadamente no que toca à área de reabilitação urbana, por exemplo, do Monte Santa Cruz, no Castêlo da Maia, já alertam para esses problemas de ligação à rede pública.
MH: Nestas autárquicas, na Maia, o que seria um bom resultado para a CDU?
JM: O nosso objetivo é aumentar o número de eleitos, seja nas Assembleias de Freguesia, onde já temos eleitos; naquelas onde não temos, queremos eleger; aumentar o número de eleitos na Assembleia Municipal e, obviamente, eleger um vereador na Câmara Municipal da Maia, que achamos que traria uma grande melhoria para o concelho, porque um eleito da CDU é aquele que leva os anseios e as aspirações dos maiatos aos órgãos onde está eleito e nunca o faz em benefício próprio.