A Ágora dos nossos tempos!
Os tempos que vivemos são absolutamente paradoxais. Nunca tivemos ao nosso dispor tanta informação, proveniente de tantas fontes e plataformas, com tanta possibilidade de ver, ouvir e dizer tudo de todos e, ainda assim, nunca tivemos tanta ausência de comunicação.
Na Grécia Antiga, o coração da vida pública e política era a praça onde os cidadãos se reuniam, a Ágora. Hoje a sociedade reúne, emite opinião, debate e muitas vezes até julga, nas redes sociais, transformando-as na Ágora dos tempos modernos, mas sem regras nem controlo, sem respeito, sem qualquer diferenciação da verdade e da mentira. Cada qual, emite a sua opinião através do seu púlpito digital, esperando que o algoritmo o transforme num herói, repleto de aplausos ou insultos em jeito de emoji.
O verdadeiro debate público, espaço de confronto de ideias que deveria ser o pulmão da sociedade e da democracia, vai definhando aos poucos. Atualmente, já não discutimos para compreender, para saber mais, para fazer ver as nossas ideias ou até mesmo para as conciliar com as ideias do outro. Aos dias de hoje, discutimos para vencer o momento mediático apenas. O argumentário utilizado não tem já o objetivo de construir, mas apenas o objetivo primordial de destruir o outro.
Muitos dos políticos de hoje, motivados pela moda dos extremismos, substitui a convicção pela comunicação do imediato e a reflexão pela reação em cima do acontecimento e o pensamento estruturado pelo soundbite.
O debate estar a sucumbir, não é meramente acidental. É a consequência de um sistema e de uma sociedade que valoriza e recompensa o escândalo e a intriga.
Esta forma de estar e de atuar, faz com que os moderados percam espaço e os extremos, ganhem terreno e audiência. Será sempre mais fácil ganhar um seguidor com uma provocação e um insulto, do que com uma ideia.
Contudo, gosto de acreditar que vai persistindo ainda uma resistência mais ou menos silenciosa a tudo isto. A resistência daqueles que acreditam que pensar, é um ato de política ativa. Que continuam a acreditar que conversar, é mais importante do que gritar. Que ouvir o próximo, é o primeiro passo para que seja merecedor de ser escutado, resistindo à pressa, à indiferença e à superficialidade.
Escrever para compreender, e não para convencer, acreditando que a crónica não tenha sido engolida pela velocidade do algoritmo e pela ditadura do imediato, fará sempre com que o debate apenas possa estar adormecido, mas não morra, acreditando que, um dia, possa voltar a acordar e a dar o verdadeiro valor à palavra.
Pedro Miguel Carvalho
Empresário, júri, blogger e podcaster no sector vinicola.
Foi vice-presidente da JSD da Maia e conselheiro distrital da JSD e do PSD.
Deputado na AM Maia pelo PSD/CDS.
Membro do “Milheirós Fest” e de coletividades maiatas.


