Saúde na Maia, um tema autárquico: A grande oportunidade de Humanizar e ganhar o futuro
Opinião de Ricardo Oliveira,
Médico Geral e Familiar.
A saúde para além um tema que nos toca a todos, sem exceção, é normalmente bandeira eleitoral em todas as campanhas eleitorais sejam elas legislativas, presidenciais e … autárquicas.
Saúde não é só um tema sobre edifícios com paredes brancas e batas. Saúde Autárquica é um tema que versa o bem-estar do nosso vizinho necessitado de uma consulta rápida, o nosso familiar que enfrenta uma doença, e, claro, o nosso próprio futuro. É quase que como uma Saúde de vizinhança! E, note o leitor, que neste exato momento, enquanto me dá a oportunidade de me ler no que tenho a partilhar, com a descentralização de competências na Saúde já nos municípios, a Maia tem mais outra janela de oportunidade fantástica para fazer a diferença. Janela essa que já devia ter começado a aproveitar.
Sei que muitos encaram esta mudança com um “pé atrás”, especialmente quando ouvimos falar de “envelopes financeiros curtos”. Na minha opinião, é precisamente aqui que reside o verdadeiro desafio e, mais importante, a oportunidade. Não se trata apenas de transferir responsabilidades de um lado para o outro. Trata-se de ganhar a liberdade para sermos mais criativos, mais ágeis e, acima de tudo, mais eficientes e mais próximos das reais necessidades da população.
Acredito genuinamente que não é a quantidade de dinheiro que faz a obra, que dá as ideias, mas sim a forma como o aplicamos e a visão que temos para ele. Um orçamento mais modesto, mas gerido com inteligência e um propósito claro, pode ir muito mais longe do que um orçamento gigante sem rumo.
E a palavra-chave é “humanizar”. Já lá vai o tempo em que a Saúde era decidida em gabinetes distantes. Agora, a Saúde está mesmo à nossa porta. Existe essa possibilidade real e concreta! O que podemos nós, enquanto comunidade da Maia, fazer com esta nova proximidade? Como podemos enquanto comunidade aproveitar estas autárquicas a nosso favor?
Podemos, sem dúvida, exigir o aperfeiçoar da organização.
Claro está que uma verdadeira revolução, acontece nas pequenas coisas, nos pequenos gestos… aqueles que fazem toda a diferença no dia-a-dia de quem procura ajuda, de quem tem doença e… dolência!!!
Agora, imagine-se Centros de Saúde com horários que realmente se adaptam à vida de quem trabalha, em vez de nos forçarem a faltar ao emprego para uma consulta. Pense-se em espaços mais acolhedores, onde a luz do sol e um toque de cor substituem a frieza austera, e onde o tempo de espera se torna menos angustiante. Imagine-se ter um funcionário que nos cumprimenta com um sorriso, que nos conhece e nos escuta! Isso é humanizar a saúde. Imagine um gabinete onde se faz prescrição social em vez de medicamentos. Imagine uma organização de cuidados que evitasse idas aos Serviços de Urgência de grandes hospitais ou esperar horas numa linha telefónica!
Esta possibilidade de uma nova autonomia abre portas para a Maia se tornar um verdadeiro motor de exemplo para a inovação em Saúde.
Poderíamos, por exemplo, liderar no apoio à Saúde Mental, criando programas acessíveis nos nossos Centros de Saúde, livres de estigma. Reforçar as equipas de apoio domiciliário, garantindo que os nossos idosos recebem os cuidados que merecem sem ter de sair de casa. E porque não uma colaboração mais próxima com as nossas farmácias locais para campanhas de rastreio e prevenção? A prevenção é, sem dúvida, uma área onde o município pode ter um impacto transformador. Sem faltar nem esquecer a prescrição social acima referida!
O processo de descentralização já está em marcha. A grande questão agora é como vamos nós, na Maia, dar-lhe vida e significado.
É aqui que o momento eleitoral que se avizinha se torna tão crucial. As próximas eleições autárquicas são uma oportunidade de ouro para pensarmos que futuro queremos para a Saúde na nossa terra. Não se trata apenas de escolher nomes, mas de escolher visões, de escolher prioridades e de escolher quem terá a capacidade de transformar um desafio administrativo numa melhoria real e sentida para todos nós.
Que esta descentralização não seja apenas mais uma mudança de papéis numa repartição pública. Que seja, sim, o início de uma nova forma de encarar a saúde, com mais proximidade, com mais eficiência e, sobretudo, com muito mais humanidade. Que a Maia seja pioneira, mostrando como a autonomia local pode, de facto, construir um futuro mais saudável e feliz para todos os seus munícipes.


