100 anos sobre o nascimento do Padre Alcindo
Curiosamente, escrevo estas linhas no dia antes de se completar 100 anos do nascimento de Alcindo de Azevedo Barbosa. Talvez ninguém se lembrará dessa efeméride.
Alcindo Barbosa nasceu em Mosteiró, Vila do Conde. Filho de Albino de Azevedo Barbosa, de Modivas e de Margarida Pereira da Silva, da Sé do Porto. Deste casamento resultaram quatro filhos. Foi baptizado pelo Pároco de Vilar do Pinheiro, António Domingues Lopes.
Em 1930 entrou para a Escola Primária de Mosteiró, a chamada Escola das Flores, onde recebeu as lições da professora D. Clotilde Meireles, figura bastante considerada pelos alunos pela sua competência, dedicação e vontade de ajudar os alunos nos exames e vida futura. Em 1935 fez a comunhão solene, sendo Pároco António de Almeida Resende. A 10 de janeiro de 1938, num dia de muita chuva, partiu para o Colégio dos Carvalhos onde entrou para o Seminário. Mas uma confusão com Mosteiró e Mosteirô determinaria que não ficaria aí, mas sim em Ermesinde. O próprio recordou as palavras de seu pai: “Não custa viver, o que custa é saber viver. Estuda muito! No próximo domingo cá estarei para te ver”! No ano seguinte passou para o Seminário de Vilar onde ficou até 1942, onde teve como professor D. António Ferreira Gomes, depois Bispo do Porto.
Depois ingressou no Seminário da Sé e em 1945 ficou gravemente doente com uma pleurisia, ficando internado por 72 dias no Hospital de Santa Maria. Depois de restabelecido, concluiu os seus estudos e a 8 de agosto de 1948 realizou a Missa Nova na Paróquia de Mosteiró, o que motivou festa na freguesia, com a formação de cortejo e colocação de adornos nas ruas. No final realizou-se um almoço convívio na Quinta da Lameira, cedida pela família do falecido Padre Agostinho Antunes de Azevedo. Seguiu-se um longo período ao serviço da Diocese como coadjuntor na Paróquia de Santo Ildefonso e professor no Seminário de Vilar, onde permaneceu 18 anos.
Só a 8 de outubro de 1967 é que ingressou na Paróquia de Moreira. A título de curiosidade, até final de 1997, tinha realizado 3214 baptismos, presidido a 183 casamentos e acompanhado 1908 funerais. E muitos outros depois se seguiram.
O Padre Alcindo foi o primeiro director espiritual da Ultreia da Maia, em novembro de 1984. Este curso visa organizar o movimento de cursos de Cristandade. Em dezembro de 1988, com a colaboração de Carlos Tedim, Teresa Torres e Carlos Torres, o Padre Alcindo Azevedo Barbosa inicia um movimento de dinamização de jovens da Paróquia de Moreira para a formação de um Agrupamento de Escuteiros – o Agrupamento 902.
A 1 de agosto de 1998, o padre Alcindo foi homenageado a propósito dos seus 50 anos sacerdotais, através do descerramento de um busto da autoria de Manuel Cabral, uma escultura em bronze sobreposta sobre uma base granítica recortada na envolvente da parte lateral do Mosteiro de Moreira, e viu o seu nome ser atribuído à Alameda junto à Igreja. Infelizmente o busto desapareceu às mãos de larápios e lá continua o despido pedestal.
Durante o período em que esteve em Moreira, realizou inúmeras obras de beneficiação na Igreja, nos claustros, nas salas de catequeses, no adro, na residência paroquial, e num terreno que conseguiu para o centro paroquial, entre outras benfeitorias. Uma das grandes proezas foi a recuperação do famoso órgão de tubos Arp Schnitger, construído em 1701 e restaurado em 2000 pela Firma ORGUIAN, Lda numa tentativa de repor a sua identidade primitiva. Possivelmente, será o instrumento de Arp Schnitger que permanece no seu estado mais original. Por isso, dizia “Se conseguirmos realizar tudo, ainda bem; se não conseguirmos, alguém virá depois de mim, que continuará a obra”.
A 29 de julho de 2006, o Padre Alcindo foi dispensado da paroquialidade de Vila Nova da Telha que acumulava desde 1999, que também acumulava com Moreira. Em 2008 esteve presente na cerimónia de restauro e ampliação da Capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens e pouco depois finalizou o seu trabalho em Moreira. Ainda prestou o seu testemunho para o livro em homenagem ao Padre Pinheiro Duarte.
O Padre Alcindo Barbosa deixou-nos a 4 de janeiro de 2011. O seu funeral foi presidido pelo Bispo do Porto, D. Manuel Clemente.
Artigo de Rui Teles de Menezes, historiador
In edição nº577 Maia Hoje