«O Lar “bateu no fundo”, mas não sou um Dom Quixote…»

«O Lar “bateu no fundo”, mas não sou um Dom Quixote…»

António Manuel Alves Bessa é um professor de 69 anos, natural e residente em Paredes que, profissionalmente, conhece bem a instituição a que agora preside. Desagradado com muito do que lá se passava, concorreu à presidência, venceu, arregaçou as mangas e sem “revoluções” abraçou uma série de reformas que estão a trazer “O Lar do Comércio” para fazer face aos desafios do século 21.

MAIAHOJE – É sabido que a instituição O Lar do Comércio passou tempos difíceis. Como noticiamos, entretanto, a direção mudou e prometeu muito. A pergunta que lhe coloco é se cumpriu?

ANTÓNIO MANUEL BESSA – É preciso enquadrar a minha chegada à presidência desta instituição. Fi-lo por convicção e espírito de missão, respondendo ao desafio de um conjunto de associados e amigos da instituição, mas sobretudo para ajudar os utentes. Na sua questão disse que o Lar “passou tempos difíceis”. Isso é um eufemismo. O Lar “bateu no fundo” e desde o dia em que assumimos a liderança, tivemos a humildade de reconhecer o trabalho hercúleo que nos aguardava e que ainda se nos depara. Não sou um Dom Quixote a lutar contra moinhos de vento, sei bem o chão que piso e que a “revolução” do modelo de funcionamento do Lar nunca seria tranquila nem fácil. Mas também sei por onde ir… Nunca me esqueço do nosso principal compromisso: humanizar os serviços e os cuidados aos utentes. Essa é a nossa bússola e, por mais que custe trilhar esse caminho, temos feito progressos relevantes com impacto na vida dos nossos utentes. Os cuidados de saúde e a alimentação são talvez os dois exemplos mais flagrantes, mas todos os dias procuramos melhorar em cada setor.


MH – Recentemente, tivemos notícia de alguns problemas, que segundo a mesma fonte já estarão resolvidos, como a falta de higiene, com pratos que ficavam desde a hora de almoço até ao jantar sem serem levantados; má alimentação; furtos a utentes; falta generalizada de pessoal e até um alegado surto de Legionella. Qual é o ponto da situação?

AMB – A tal revolução de que falava tem consequências, neste caso ex-colaboradores insatisfeitos, de orgulho ferido, que não querem o bem dos utentes, mas sim fazer lamaçal. A realidade com que nos deparámos é que há muitas pessoas que não têm capacidade nem perfil para encaixar no modelo que preconizamos para Lar, que é absolutamente centrado no utente. Muitas vezes dizemos que esta “casa” existe pelos utentes e é para eles que devemos virar a nossa gestão. Temo-lo feito, com pulso firme, convictos do caminho de excelência a seguir. Há pessoas que não estão habituados a isso, à exigência e transparência total. Daí nasce insatisfação e uma escada com degraus de injúrias, denúncias anónimas e verborreia nas redes sociais.

Quanto aos tais problemas, nada melhor do que falar com utentes e seus familiares. Assim conseguem perceber como era antes e como é agora. O caso da Legionella é sintomático. Nunca tivemos, felizmente, nenhum surto no Lar. O que aconteceu foi que detetamos, num dos testes regulares que fazemos à qualidade da água, a presença de Legionella. De imediato implementamos medidas para salvaguardar a saúde dos utentes. Ou seja, aquilo que foi o nosso zelo e rápida atuação foi transformado num surto de Legionella e falta de higiene… A alimentação é outro “tesourinho”. Para terem uma ideia, estamos a investir quase cinco vezes mais na refeição de cada utente. E digo “investir” porque, para nós, uma boa alimentação é essencial para uma maior qualidade de vida e mais saúde. Hoje, os utentes podem escolher, entre quatro opções diferentes, o seu prato do dia seguinte. Em termos de alimentação temos, finalmente, um serviço “premium” que contrasta com o passado.


MH – Sabemos que os cargos gerentes de instituições como esta são particularmente difíceis e até há quem diga que o Presidente já está cansado e não faz intenção de se recandidatar. Que fundamento tem esta afirmação e o que verdadeiramente o motiva?

AMB – É verdade que esta é uma missão difícil e é verdade que, por vezes, se torna esgotante. Mas eu já sabia que ia ser assim e, honestamente, sou o tipo de pessoa que não vira a cara à luta. Confesso que nem eu acreditava ter tanta energia e estar em tão boa forma. Sobre a minha recandidatura, ainda é muito cedo para pensar nisso. O Lar ocupa-me tanto, que essas politiquices passam-me ao lado. Enquanto os outros se preocupam com eleições, eu preocupo-me em resolver problemas do Lar e dos nossos utentes.


MH – Quanto ao futuro da instituição o que é que podemos esperar para os próximos tempos?

AMB – Podemos esperar investimento, podemos esperar modernização e uma procura permanente por devolver a credibilidade à instituição. Todos os dias damos um passo seguro nesse sentido. E sabemos que, gerindo de dentro de fora, sem esquecer a nossa bússola, não perderemos o Norte.

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