«As coisas têm corrido bem pelo facto de pôr muito pouca política naquilo que faço»

«As coisas têm corrido bem pelo facto de pôr muito pouca política naquilo que faço»

Carlos Moreira é um presidente de junta que exibe quase sempre um sorriso. No início do seu mandato diz ter percebido «que o Executivo da Câmara Municipal não olhava para esta freguesia da forma que merecia ser olhada. Agora tenho tido a oportunidade de quando me dizem “o caminho é este”, muitas vezes dizer-lhes “não, acho que o caminho deve ser outro”».
Sobre obras em curso destacamos «o resultado final da Feira de Pedras Rubras, uma obra pedida há muitos anos, está a satisfazer e entusiasmar com o resultado final, uma vez que se trata de uma praça que será multiusos. Vai funcionar como feira semanal, mas vai ter muito mais que isso», mas também é importante «o novo Centro de Saúde, ao lado da Junta de Freguesia, para colmatar os cerca de oito mil utentes sem médico de família».
Para um último mandato com que Carlos Moreira não se quer comprometer diz precisar de «sentir que, aos olhos da Câmara Municipal da Maia, somos os principais elementos da mesma e, muitas vezes, mais do que as próprias equipas deles. Tenho de chegar ao fim destes quatro anos e notar que houve um esforço dessa parte, porque não é isso que tem acontecido.»

Nascido na Alemanha, Carlos Guilherme Ferreira Moreira, ou Cali, como gosta de ser tratado, é o atual presidente da Junta de Freguesia de Moreira e conta agora com 59 anos.
Vive na Maia, mais propriamente em Moreira, desde os seus cinco anos de idade e tem na família «um porto seguro», considerando o pai «uma referência» na sua vida.
Estando atualmente no segundo mandato, Carlos Moreira tem como principal preocupação a população e o bem-estar da mesma. Desta forma a área social dá origem a vários projetos, nomeadamente o “Transporte a Pedido” e “Moreira Sem Fim”, explicados na entrevista. Também a requalificação de jardins e da praça que alberga a feira de Pedras Rubras, um Posto de Turismo, arruamentos vitais para a freguesia e ainda o aumento do número de quartos no setor hoteleiro, são alguns dos projetos com que se debatem Carlos Moreira e a sua equipa.
Carlos Moreira fala, assim, ao MaiaHoje sobre o Passado, o Presente e o Futuro da freguesia.

MaiaHoje (MH): Tendo vindo para cá com cinco anos, lembra-se de como era Moreira nessa altura?

Carlos Moreira (CM): Sim, claro. Nessa altura era uma aldeia simpática, com pessoas que sempre foram afáveis, havia muita cordialidade entre as pessoas. O meu pai, aqui, foi um dos grandes impulsionadores na área do desporto, das camadas jovens, ou seja, dos Juvenis e Iniciados. Na parte do desporto, era o futebol que havia naquela altura. Atualmente, as pessoas que têm agora 60 ou 65 anos passaram pelas mãos do meu pai, que tinha a particularidade de tratar cada um desses jovens como filhos e isso fez com que o carinho que tinham pelo meu pai passasse para mim também. Nessa altura era uma referência para as pessoas.
Passando um pouco para o Presente, e como o meu pai foi sempre uma referência para mim, tudo o que ele fez por “carolice”, passando a expressão, de forma voluntária, nessa área dos jovens, foi algo que sempre me ficou marcado pela positiva. Tenho muito orgulho nisso e fez crescer em mim a vontade de querer dar algo à comunidade também. Nunca pensei concretamente na presidência, porque não sou político e acho que o motivo pela qual as coisas têm corrido bem prende-se com o facto de pôr muito pouca política naquilo que faço e é isso que tento passar à minha equipa. Claro que estamos aqui devido a uma força política, mas quanto mais conseguirmos tirar a política destas áreas, de comunidade, de apoio à população, quanto mais conseguirmos fugir a isso, para mim acho que é o melhor. Claro que, desta forma, tiramos muito tempo ao seio familiar e profissional, mas temos sempre o sentimento de que estamos a fazer o melhor que podemos.
Atualmente, no que a associações diz respeito, a nossa freguesia é muito rica e quando há atividades fazemos sempre questão de estar presentes. Não só aqui, mas também nas outras freguesias, por uma questão de respeito.

MH: Parece-me que tem uma visão diferente do habitual neste meio autárquico…

CM: Exatamente, eu sinto que tenho uma visão diferente do estereotipo do presidente de Junta. Eu gosto de estar próximo, gosto de estar muito atento, gosto de estar ativo e gosto muito pouco daquela “fronteira” que possa existir entre mim e a população. Fico feliz que as outras freguesias tenham coisas boas, até porque as dez freguesias do concelho são completamente diferentes entre si, percebendo que umas têm mais dinâmica, outras menos, mas todos temos de viver e conviver.
Ainda em relação a este tema, percebo que a freguesia de Moreira é uma das freguesias mais importantes e essa é uma das minhas lutas desde o início do meu primeiro mandato, ou seja, perceber o que nós temos aqui e fazer com que o executivo da Câmara Municipal olhe para esta freguesia com algum pormenor. Temos um associativismo muito forte, uma área industrial muito forte, temos o aeroporto e isso faz com que o turismo seja muito forte também. Temos uma parte hoteleira que conta com cerca de 700 quartos e com construção e licenciamento de mais 400/500 quartos, o que significa que dentro de um ou dois anos teremos aqui cerca de 1200 quartos só na freguesia de Moreira e isso implica olhar para o turismo de forma diferente.

MH: Antes de passarmos aos projetos que a freguesia tem, disse-nos há pouco que, não tendo por base a política o que é que o faz chegar à Junta de Freguesia?

CM: Essencialmente o querer dar algo aos outros. Eu vivo sempre com o bem dos outros e ao viver bem dessa maneira, se puder provocar algo de bom nos outros eu fico feliz, isso alimenta-me. Tendo isto em mente, a minha ideia foi sempre dar algo aos outros através de uma associação ou coletividade, mas uns amigos meus acabaram por me influenciar dizendo-me que tenho realmente carisma para poder avançar para um projeto destes, para presidente de Junta. Dizerem-me isto fez-me pensar “porque não?”.
Tive a parte familiar que foi fundamental, no sentido em que a primeira palavra foi sempre da família, porque se não concordassem e não me apoiassem não faria sentido para mim, até porque a família é o meu pilar, o meu porto seguro. Eu podia fazê-lo de forma diferente, mas eu vivo emocionalmente.
Aliado a tudo isto está o facto de, nas últimas décadas, e era algo que me incomodava, eu ter percebido que Moreira podia ser e dar mais, tem muito potencial. Percebi que o Executivo da Câmara Municipal não olhava para esta freguesia da forma que merecia ser olhada. Esse foi sempre o meu primeiro objetivo.
Tendo eu um outro trabalho, vim para a Junta para ser solução, para ajudar e estou aqui para contribuir para o bem das pessoas. Não tenho de estar aqui a bajular ninguém, tenho de pôr os meus critérios e tenho tido com o Executivo da Câmara Municipal a facilidade de me dizerem “o caminho é este” e de muitas vezes eu dizer-lhes “não, acho que o caminho deve ser outro”, mas mais uma vez, ponho critério, explico o meu ponto de vista.
Aqui temos a vantagem de termos a proximidade das pessoas e perceber, no terreno, quais as necessidades da freguesia. E isso traz-me uma vantagem enorme pelo facto de a população deixar de ser aquela que reclama e passar a ser aquela que nos alerta para certos problemas.

MH: Passando agora para os projetos da Junta, quais são os que estão em cima da mesa?

CM: Um dos projetos que me orgulho muito é o Transporte a Pedido, que passa um pouco pelas minhas conversas com a população em que percebi que muitas pessoas não tinham a facilidade de se deslocarem, por exemplo, ao Centro de Saúde. Pegando neste mesmo exemplo, quem vem da Zona Industrial, e se for uma pessoa já idosa, para vir ao Centro de Saúde tem de se deslocar a pé até às paragens de autocarro e fazer uma série de transbordos até finalmente chegar ao destino. Foi um projeto apresentado ao presidente da Câmara. Expliquei como poderia funcionar, ou seja, até às 15 horas do dia anterior a pessoa liga, nós fazemos depois um itinerário com as horas que as pessoas precisam, vamos busca-las a casa, trazemos cá e depois levamos de volta. Este foi mesmo um projeto de sucesso.
Temos ainda o Moreira Sem Fim, já estivemos inclusive no passado dia 11 de agosto reunidos para tentarmos dar andamento, e este foi um projeto idealizado no mandato anterior, mas devido à pandemia esteve parado e neste momento quero arrancar com ele.
O Moreira Sem Fim passa por ser algo projetado para a comunidade também. A área social é algo que me fascina e é uma das áreas onde me preocupo mais, acho ainda que uma Junta de Freguesia deve estar muito atenta a isto também. O projeto passa então por três situações distintas, a primeira está destinada a equipamentos que, por exemplo, só utilizamos uma vez por ano e não faz sentido estarmos a comprar. Imagine que quero cortar uma sebe, tenho de ter uma tesoura, tenho de ter uma máquina de cortar relava, uma rebarbadora. Há peças que todos nós precisamos, mas que não há necessidade de comprar. A ideia aqui é a Junta ter um espaço na Estação de Pedras Rubras, num edifíciozinho pequeno que lá existe, e termos um “depósito” desses equipamentos para as pessoas poderem utilizar. A segunda parte do Moreira Sem Fim passa por, e mais um exemplo, nós termos uma máquina de lavar avariada que vai para o lixo. Mas às vezes é apenas uma bomba da água que está avariada nessa máquina, aqui a ideia é nós podermos recolher a tal máquina de lavar, temos já voluntários e temos a hipótese de fazer a reparação, e poder dá-la a alguém que precise e que não possa comprar. A terceira fase é nós podermos ir a casa de um idoso e, por exemplo, arranjarmos uma fechadura, darmos uma pintura em qualquer coisa, arranjar uma lâmpada que esteja fundida, cortar uma sebe ou a relva. Para uma pessoa que esteja sozinha, e já com o avançar da idade, todas estas atividades se tornam complicadas. Nós temos já um grupo de voluntários, como disse, e temos realmente a vantagem de que aqui na freguesia somos todos muito solidários.
Outro projeto que temos para avançar rapidamente, que de resto já foi apresentado ao presidente da Câmara e agora tem de ser apresentado como documento, passa por intervencionarmos todos os jardins da freguesia. Vamos tentar criar aqui cor e a cor passa por arranjar os jardins e vamos ter uma equipa para esse fim. No fundo nós somos a entrada para o Norte do país, por isso faz todo o sentido termos os jardins sempre arranjadinhos, à semelhança do que temos no centro da Maia. Por parte do departamento do Ambiente da Câmara Municipal, já nos concederam a oportunidade de nos serem fornecidas as flores da época e a ideia é cortarmos as relvas, termos tudo limpo e termos equipas permanentes, pelo menos um ou dois funcionários da Junta de Freguesia, para arranjar jardins, fazer limpeza de ruas e, no fundo apoiarmos um pouco aquilo que é feito pela Câmara Municipal da Maia.
Além dos que já referi, ainda temos o projeto do Turismo. Moreira precisa de um Polo de Turismo e vai ser ainda definido um local que seja apropriado para tal. Acho que faz todo o sentido.
Também estamos a trabalhar nos Caminhos de Santiago, que é outra área fundamental na freguesia. Moreira está estrategicamente preparada para estes caminhos, uma vez que temos os Caminho da Costa, que vem de Crestins, passa pela Nossa Senhora dos Homens e depois entra por Vila Nova da Telha. Depois temos o Caminho central que vem a Mestre Clara e depois segue perto do Padrão, à beira do cemitério.

MH: E quanto aos projetos que “jogam” lado a lado com a Câmara Municipal? Como disse, e bem, os que acabou de referir já são feitos, de certa forma, com esta parceria…

CM: As juntas de freguesia vivem sempre algumas dificuldades, e se falarem com alguns colegas meus perceberão que é geral, que se prendem com a comunicação com a Câmara Municipal, então com a Câmara Municipal da Maia é extremamente difícil. Em alguns departamentos nem tanto, mas outros é muito complicado lá chegar, percebendo muitas vezes que eles desvalorizam o papel de uma Junta de Freguesia. São capazes, em muitos casos, de dar mais ênfase a um e-mail de um freguês, do que propriamente a um pedido por parte da Junta. É algo que me incomoda, mas é também algo que eu vou passando com alguma assiduidade ao presidente da Câmara. O principal problema que um político ou um autarca pode ter é criar expectativas em alguém e defraudá-las, muitas vezes até sem necessidade. Por exemplo no caso dos arruamentos, eu prefiro que me digam “esta rua, neste mandato não vai ser feita”, porque assim é também mais fácil eu chegar à beira da população e dizer precisamente isso. Vou na mesma contra as expectativas, mas pelo menos, a quem eu me dirigi, vão dizer “não era o que esperávamos ouvir, mas pelo menos foi correto, foi verdadeiro, não andou aqui a enganar-me”. Eu não sou e não quero ser aquele típico político que é só mais um para enganar as pessoas.
Quanto aos projetos, o meu primeiro mandato foi muito complicado devido à pandemia e, também devido a essa situação houve muito pouca obra e essa foi sendo uma preocupação que fui transmitindo ao presidente da Câmara, porque cada vez menos a população que vive em Moreira não são as famílias. Há muita gente de fora que está cá e que não sabe quem é o presidente da Câmara Municipal, o presidente da Junta, vem para cá viver simplesmente porque a Maia é considerada um dos concelhos de excelência e vêm para cá até para ficarem mais próximos, quem sabe, dos seus locais de trabalho.
As obras que estão agora a ser concluídas são obras de décadas, paradas há décadas, e fico feliz que estejam a ser então finalizadas. É um trabalho de Executivos anteriores, que também estiveram aqui a dar o corpo ao manifesto, a esforçarem-se para que isso acontecesse. Felizmente aconteceu no meu mandato, mas é um trabalho de outros presidentes de Junta, do anterior presidente da Câmara, que também foram importantes e é importante reconhecer sempre o passado. São obras de referência, por exemplo esta obra da Nacional 13, uma obra importantíssima, foi também uma obra difícil, uma obra que, com o nosso trabalho de proximidade, exigiu dar a entender às pessoas que isto é de facto o melhor, porque o impacto inicial foi negativo. Agora toda a gente está satisfeita com o resultado final, até porque resulta de uma solução interessante, menos trânsito. Foi uma obra emblemática.
Outra obra que está mesmo em fase de finalização é a Feira de Pedras Rubras, também é uma obra pedida há muitos anos, toda a gente está muito satisfeita e entusiasmada com o resultado final, uma vez que se trata de uma praça que será multiusos. Vai funcionar como feira semanal, mas vai ter muito mais que isso. No fundo nós queremos fazer nessa praça um pouco à semelhança do que se faz na Praça do Doutor José Vieira de Carvalho, em frente à Câmara Municipal. E há de facto muitas atividades que se podem fazer ali, desde música, desporto, feiras temáticas. A ideia é perceber que temos aqui turistas, que na sua maioria querem ir para o Porto, mas se chegarem a uma determinada hora e perceberem que há esta ou aquela atividade, um momento simpático a decorrer, com umas esplanadas, um palco, talvez os faça ficar e apreciar um pouco mais esta cidade e esta freguesia.
Este é um mandato com muita atividade, temos por exemplo o centro de saúde… vai ser feito o novo centro de saúde aqui ao lado (ao lado da Junta de Freguesia) para colmatar os cerca de oito mil utentes sem médico de família. Neste momento já está em construção a abertura da Avenida Vieira de Carvalho à Rua Cruz das Guardeiras, que também é uma área viária fundamental. Vai nascer, ainda neste mandato, o centro de investigação animal, que também vai criar alguma dinâmica. Começa-se a perceber que a parte da construção também está aqui em grande movimento. Estamos também com a reabertura do concurso público para fazer da área envolvente à Junta de Freguesia um parque urbano.

MH: É algo que falta a Moreira, um parque urbano?

CM: Sim, faz muita falta. Temos um troço muito pequeno do corredor do Leça e este pulmão que nascerá aqui é necessário. O presidente da Câmara Municipal também tem aqui algumas ideias em relação à Quinta do Mosteiro… há aqui de tudo.
Um aspeto que também já tenho vindo a falar com o senhor presidente da Câmara é a necessidade de uma Piscina Municipal nesta parte do concelho. Um aspeto que também me preocupa prende-se com os seniores e toda a atividade sénior, porque tudo o que envolva, por exemplo, natação, as pessoas são levadas para as piscinas de Folgosa e, mais uma vez, no meu entender esta região do concelho necessita de uma Piscina Municipal. Mas é algo que talvez seja feito num outro mandato e, como costumo dizer, eu tenho a responsabilidade para com os moreirenses para este mandato.

MH: A minha questão seria exatamente essa… pensa recandidatar-se a um terceiro mandato?

CM: Só nessa altura, na altura mais próxima às eleições, é que poderei dizer se estou ou não motivado para continuar aos comandos da freguesia. Mandato a mandato é como tenho levado as coisas, podia dizer que sim, recandidato-me ao terceiro mandato, mas posso não estar motivado para tal. A três anos do fim deste mandato acho que não devo responder já a essa questão, é algo que requer um esforço muito grande, requer uma equipa e, mais uma vez, tenho de estar motivado.

MH: O que é que o faria não estar motivado para a recandidatura?

CM: É fácil. Não ter uma retaguarda, perceber que o nosso esforço e aquilo que fomos tentando fazer… a dependência da Câmara Municipal é muito grande nas Juntas de Freguesia e isso é algo que me incomoda. Enquanto não formos vistos como parceiros fundamentais da Câmara Municipal da Maia é o principal fator para eu continuar ou não. Preciso de sentir que, aos olhos da Câmara Municipal da Maia, somos os principais elementos da mesma e, muitas vezes, mais do que as próprias equipas deles. Tenho de chegar ao fim destes quatro anos e notar que houve um esforço dessa parte, porque não é isso que tem acontecido.
Há uma coisa que me orgulha… tive um primeiro mandato com muito poucas obras devido à pandemia e aí sim, estive com o povo, ajudei no que pude, cheguei ao fim desse mesmo mandato e, com a minha recandidatura e reeleição, tive a maior votação de sempre aqui em Moreira. Isso é uma coisa que me orgulha, mas que me dá muita responsabilidade também perante a população e me faz estar aqui todos os dias a lutar.

MH: Mesmo para terminar, para o senhor presidente, Moreira é…

CM: Moreira é um filho por quem eu tenho muito carinho e que quero ver crescer.

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