A Maia e Barreiros no fim do século XIX

A Maia e Barreiros no fim do século XIX

O Britânico Charles Sellers, na sua obra “Oporto Old and New” publicada em 1899, encantado com a nossa terra, retrata a paisagem e o povo simples da Maia de forma tão genuína, autêntica e poética que não resisti, feita a tradução, a colocar aqui um trecho desse livro.

A imagem da FIADEIRA que coloco prende-se para além da referência no livro, à circunstância de nessa época, 35% das mulheres de Barreiros exercerem essa profissão de fiadeira, trabalhando em casa para os comerciantes de tecidos do Porto.

“O concelho da Maia é peculiarmente favorecido pela natureza, os campos estão bem cultivados e rendem bem, e as pessoas são muito engenhosas. Quase todos são donos de um lote de terreno e de um pequeno chalet. As mulheres fiam e tecem, cuidam dos galinheiros e animais, cozinham, lavam e cantam a toda a hora; os homens durante a semana vivem no Porto ou Braga e trabalham como pedreiros, carpinteiros ou trolhas.

Excepto a morte, nada parece interferir com a sua felicidade doméstica: eles olham para a doença com todo o espírito cristão, e quando as suas crianças morrem na infância, eles ficam resignados e alegres pois estão confiantes que, há para além do céu um paraíso de alegria e amor, e as crianças quando morrem vão para esse mundo.

Vamos imaginar uma estrada a atravessar campos de milho Indiano entre os quais codornizes cantam alegremente, tílias, carvalhos, lariços, olmos e pinheiros contornam esses campos pintados de dourado, e dos galhos das videiras pendem cachos de uvas roxas. Os melões amarelos e as melancias verdes são expostos em grinalda nas margens dos riachos onde os bois matam a sua sede, e os muros estão completamente escondidos pelas árvores anciãs, heras e rosa mosqueta.

Um pouco além, pode-se ver uma casa caiada de branco com telhado vermelho, perto de um canavial onde o verde-escuro das oliveiras e das laranjeiras se mistura com o verde-claro das cerejeiras e das macieiras – este cenário é idílico como um poema.

A atravessar o campo de milho, guitarra numa mão e um quarto de pauta na outra, aparece um pretendente a casar com a filha pobre, mas muito querida filha do dono da casa. A sua camisa branca é muito boa para ser escondida pelo casaco que traz aos ombros, os seus tamancos forrados a veludo com sola de madeira laranja, a sua faixa de cintura tem muitas cores, mas predomina o escarlate, ela vê-o e espera por ele junto a um ulmeiro.

Cumprimentam-se mais ou menos assim:

Ele: trago-te este ramo de flores, não pelo que elas valem

Ela: eu aceito-as, pois, a chuva de Deus fizeram-nas florir na sua terra

(tradução feita por Joana Gonçalves)
Fernando Teixeira

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