Lenine Cunha: «Não há impossíveis»

Lenine Cunha: «Não há impossíveis»

Atleta paralímpico “mais medalhado do mundo” visitou o Centro Escolar de Mandim

Aos 36 anos, Lenine Cunha detém o título de atleta paralímpico “mais medalhado do mundo”. O atleta ultrapassou o objetivo das 200 medalhas, 79 delas de ouro, conquistadas em competições internacionais. A barreira foi superada em meados do passado mês de março com a conquista de seis medalhas, na Turquia.

No último dia de aulas do 2º período, o fenómeno do atletismo adaptado esteve no Centro Escolar do Mandim. A sua história de vida foi um exemplo para as 154 crianças de sete turmas que estiveram presentes e um dia esperam conseguir chegar tão longe quanto Lenine.

O segredo do sucesso parece não ter segredos. O atleta explica que a receita é simples «lutar por aquilo que acreditamos e nunca desistir, independentemente das dificuldades porque não há impossíveis. Quando sonhamos, lutamos e acreditamos, conseguimos tudo».

O Maiahoje esteve lá e falou com o atleta que diz não perder um Meeting de Atletismo da Maia, uma competição em que se estreou em 1997.

 

Uma infância difícil

Nascido a 4 de dezembro de 1982, em Vila Nova de Gaia, Lenine Cunha era uma criança igual às outras. A saúde parecia não faltar numa casa que recorda «humilde, mas onde o amor não faltava».

Tinha apenas 4 anos quando a mãe o pôs a «dormir a sesta», um procedimento igual a tantos outros dias e natural numa criança daquela idade. Atenta, sob o olhar maternal, a mãe parou os afazeres domiciliários para ver o filho que dormia no quarto. Nessa altura, Lenine estava em convulsões, provocado por um ataque de meningite, uma doença comum nesse tempo. «Chegaram a colocar-me numa arca frigorífica para baixar a febre». Os 41ºC provocaram-lhe graves lesões no cérebro como a perda de memória, capacidade de falar e de andar, problemas de audição e limitações na visão.

«Com a meningite que tive aos 4 anos perdi a fala, a memória, afetou-me também a audição e a visão. Ainda hoje, só vejo 10% do olho esquerdo», disse. «Tive de reaprender tudo. Fui para a escola sem saber falar e tive de ter aulas de apoio a todas as disciplinas. Não memorizava nada», recordou ao referenciar que foi «a minha mãe que sempre puxou muito por mim, ensinou-me a ser uma pessoa independente e interessada por aprender».

Hoje, explica, «as pessoas não notam deficiência porque os assuntos de que falo regularmente na minha vida são aqueles em que sou bom».

 

O sucesso

Para melhorar as relações sociais, aos 6 anos, os pais colocaram Lenine no andebol, mas «essa não era a modalidade que mais gostava» e rapidamente mudou. Foi um ano mais tarde que iniciou o atletismo na vertente regular. Em 1999, o treinador José Costa Pereira, que ainda hoje possui esse cargo, cativou-o para a competição, integrando-o no desporto adaptado.

Em 2000, fez a sua primeira competição internacional, na Austrália, nos Jogos Paralímpicos de Sydney, onde conquistou o 4º lugar. Mas, foi em Londres, 12 anos depois, que conquistou a medalha que diz ser «a mais especial». Arrecadou o bronze no salto em comprimento, na classe F20, dos Jogos Paralímpicos de Londres. Foi precisamente nesse ano que, despoletado por uma questão de um jornalista acerca do número de medalhas internacionais que já tinha conquistado até então, em conjunto com o seu treinador, decidiu contar os feitos já alcançados. Um novo objetivo foi construído: ultrapassar as 200 medalhas.

Em 2015, criou o seu próprio clube, sediado em Vila Nova de Gaia, Sport Clube Lenine Cunha, que ainda hoje detém, com o principal objetivo de ajudar jovens a iniciarem ou prosseguirem as suas carreiras desportivas.

Em abril de 2017, foi eleito o melhor atleta mundial da Federação Internacional para Atletas com Deficiência Intelectual (INAS), em Brisbane, na Austrália.

 

Objetivo Cumprido

O atleta paralímpico português Lenine Cunha, de 36 anos, garantiu, em meados do passado mês de março, nos Europeus de Pista Coberta da Federação Internacional para Atletas com Deficiência Intelectual (INAS), na Turquia, a 203ª medalha da sua carreira.

Lenine ultrapassou o objetivo das 200 medalhas internacionais com a participação nas competições de pentatlo, salto em comprimento, salto em altura, triplo salto, 60 metros barreiras e estafetas 4×200 metros e 4×400.

Curiosamente, explicou, «tinha 16 anos quando conquistei a minha primeira medalha, a 9 de março de 2000. 19 anos e um dia depois conseguir alcançar o meu objetivo, a 200ª medalha».

 

Carreira poderá terminar em 2020

Lenine compete há 29 anos e o próximo objetivo são os Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, que diz poderem «ser os últimos». Acredita que «a idade não é um limite», razão pela qual espera ter uma «brilhante prestação», mas essa poderá ser a última vez em que veremos o hastear da bandeira portuguesa pelas mãos do atleta paralímpico “mais medalhado do mundo”.

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